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Monge Ryozan 29/11/2010
Havia dor. A dor do corpo não acostumado a tantas horas na mesma posição e a dor da tristeza, da saudade, da incerteza, da culpa.
Acordávamos antes dos pássaros. Os insetos chilreavam enquanto nós sentávamos em meditação. No silêncio de nossas bocas, ouvíamos o primeiro piar anunciando a manhã. Assim passávamos os dias. De meditação em meditação, silêncio e orações. Plena atenção aos gestos, passos, olhos baixos.
Havia dor. A dor do corpo não acostumado a tantas horas na mesma posição e a dor da tristeza, da saudade, da incerteza, da culpa.
Havia a dúvida. Havia o medo de perder a razão.
Como se perde a razão? Primeiro seria de bom senso encontrá-la.
Em um vitral da sala em que meditávamos, estava escrito: “Não há religião superior a verdade”. Era o que nós tentávamos encontrar, a verdade. Verdade sobre nós mesmos. Mas ela deveria ser clara e luminosa, afastando a ignorância, a ganância, a raiva, o rancor.
Esperando o momento de me levantar, com as pernas doendo, contando cada inspiração, eu me esquecia de meu propósito e de minha busca. Parece tão simples e é tão difícil. Poucos conseguem, bem poucos se interessam. Queremos sempre ser entretidos. Gostamos de entretenimento. Pode ser televisão, filme, música, teatro, leitura. Podem ser encontros, festas, conversas. Podem ser amores e desamores, afetos e desafetos, brigas, ciúmes, inveja.
Perceba suas emoções, seus pensamentos, sensações. Discernimento é uma palavra que os padres e as monjas gostam muito. Responsabilidade. Escolha.
À noite, antes de ir dormir, antes do último e delicioso toque do sino, que nos permitia levantar, com voz lenta e dramática foi declamado: “Vida e morte são de suprema importância. O tempo rapidamente se esvai e a oportunidade se perde. Cada um de nós deve se esforçar para acordar, para despertar. Não desperdice a sua vida.”
Saíamos da sala em silêncio. Alguns ouvindo tudo, outros nada. Mas a verdade incessante não deixava de ser proclamada. Está sempre em toda a parte e, no entanto, sem abrir o olho da sabedoria, nada entendemos.
Monja Coen
Extraído do texto “O retiro e a verdade de 14 de dezembro de 2003”.
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