Algumas pessoas se afastam por entender que a prática do Zen não era o que elas esperavam. Elas esperavam o que leram nos livros, coisas complicadas, koans, não dualidades, pensamentos muito complexos sobre o Zen. Não estão errados estes pensares, mas eles não são o verdadeiro Zen porque o verdadeiro Zen se expressa em pequenos detalhes e não se expressa através do conhecimento verbal, do raciocínio. Ele se expressa em outras coisas. Para nós vermos um bom praticante do Zen nós não o ouvimos, nós sentamos com ele, olhamos as suas costas. E ao olhar as costas do praticante nós sabemos: é um praticante sério. Não importa o que ele disser. Importa como ele pratica, como ele anda, como ele coloca os seus chinelos, como ele faz a oferenda de incenso, como ele faz cada coisa porque é na expressão da vida diária que nós vemos a verdade.
Não adianta fazer belos discursos sobre o Zen e depois ter um ataque de raíva. Esse não é o Zen. Não é o Zen falar bonito e depois ter atitudes quaísquer de cobiça, de orgulho, de inveja, aquelas que nós citamos nos preceitos. A verdade vai aparecer na expressão da forma. A verdade aparece na fala e nas ações que expressam a mente. Por isto treinamos a mente. Treinando a mente deveremos mudar as nossas ações, as nossas formas, mas viemos no zendô e treinamos a forma para ver quanto estamos atentos. Uma mente atenta, não é uma mente distraída, viajando, perdida. Mas quando estamos fazendo coisas no zendô, com todas as regras, aí nós erramos. Quando nós erramos, nós rimos, porque todos erramos. Mas quando nós erramos e rimos é para nos dar conta de que é esse o nosso verdadeiro estado. O nosso estado se expressa aí e depois a gente senta e pratica com a nossa mente das duas formas, observando a mente no zazen e mantendo a forma de Buda no zazen. Então são esses dois caminhos bem juntos. Se você tirar a forma do Zen não é mais o Zen, é outra coisa.
Não vale a pena praticar se você não compreende isso. É melhor então procurar uma prática em que você não sente este conflito. Mas eu fico pensando quantos desses enganos provêm de falhas minhas como professor. De explicar claramente o que é isso porque na tradição do oriente não se explica. Então simplesmente se faz e se espera que as pessoas consigam compreender sozinhas. Mas no ocidente como chegou a tão pouco tempo o Zen, acho que o professor tem que explicar.
Postado por Monge Genshô no "O pico da montanha"
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