Queremos que algo renasça porque queremos permanecer existindo.
Isso é apenas mais um truque do ego.
Só permanece o carma.
Consciência individual é fenômeno de funcionamento da mente.
Cessando seu funcionamento, cessa essa consciência.
Eventuais "lembranças" de vidas passadas, se existem, são manifestação da "consciência depósito" (arquetípica) que a humanidade partilha (chama-se "älaya" de "depósito" em sânscrito).
Se elas parecem se concentrar em uma determinada manifestação, algumas linhas budistas reconhecem aquele ser como um "herdeiro" de um ser passado, mas que não se trata, em absoluto, da mesma pessoa.
No Zen, não há a tradição de reconhecimento, a qual é mais praticada entre os tibetanos.
Postado por Monge Genshô em trechos de respostas acessáveis no site http://www.daissen.org.br/ em "perguntas" opção "reencarnação". Mais respostas podem ser lidas aqui
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Não sou um especialista no Budismo Tibetano, mas até onde sei os conceitos sobre 'o que renasce' são idênticos aos do Zen.
Ou seja, este algo que permanece está ligado ao carma, mas não a um ego particular.
Esse ponto é comum em todo o Budismo.
No Budismo Tibetano, os conceitos do bardo e de anatman (não alma permanente) convivem sem conflito. É como se a experiência do bardo fluísse até que um renascimento criasse um novo conjunto de agregados, uma continuação da vida anterior, porém com outros componentes, admitindo-se mesmo que várias pessoas diferentes fossem simultaneamente renascimentos de um mesmo carma de alguém passado.
"O uso da palavra reencarnação é um problema de tradução, na falta de um conceito que explique claramente o entendimento complexo do budismo usa-se um termo eivado de conotações vindas de outras fontes que dá a entender que um eu se perpetua ganhando um novo corpo, ora o conceito budista é que o carma se manifesta gerando um novo eu, semelhante ao anterior, mas não uma continuidade egóica, para isto seria necessário memória plena que ninguém carrega nitidamente."
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Numa imagem metafórica, é como perguntar por que uma onda de água, ao bater num rochedo, reflui para o mar com igual força. Isso ocorre porque um "quantum" de energia tende a se propagar, e se manifestar com a mesma força e mesmas características básicas do fenômeno que o antecedeu.
Percebemos, assim, que o "eu", sendo um fenômeno temporário, uma construção aparente, não pode ser permanente, e, portanto, não pode se manifestar novamente como o mesmo eu.
Apesar disso, sua energia acumulada, sua onda "cármica", esta sim, manifestar-se-á de novo, com características semelhantes.
Logo, não existe "um mesmo ser" ou "um eu" para reeencarnar. Prefiro a palavra "manifestação" a "renascimento", o "re" leva à crença em um nascimento que se repete, do mesmo indivíduo, tese do filósofo Senika que Buda refutou.
Uma imagem normalmente usada no Budismo: uma semente de manga produz uma mangueira que produzirá mangas do mesmo tipo (Nagasena responde assim ao rei Milinda).
Não são as mesmas mangas, mas são uma continuidade semelhante, determinada pelas características anteriores.
Nesse entendimento podemos dizer que um "eu" particular não renasce, pois sua existência é uma delusão.
Porém, a carga cármica de cada ser manifesta-se novamente, mantendo sua força e características anteriores.
No Zen Budismo, praticamos para alterar o carma e, até mesmo, a extingui-lo, voltando ao seio de nossa natureza última, não distinta nem perturbada por marcas particulares, nem pela crença em um "eu" separado, que é a ignorância fundamental.
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