Entrevista com BRIAN BERMAN

 

"É preciso pôr o doente, e não a doença, no centro da discussão", diz,
sem preconceito, Berman.
 

 
O médico americano BRIAN BERMAN é o fundador do Centro de Medicina Integrativa da Universidade de Maryland, a primeira instituição de ensino dos Estados Unidos a abrir as portas às terapias complementares ou alternativas. Com doze professores e sessenta alunos, ela atende anualmente 10 000 pessoas. Ainda assim, a fila de espera é grande.
 
 
A maioria dos pacientes é vítima de dores crônicas, e os tratamentos são baseados sobretudo em técnicas da medicina chinesa – acupuntura, massagens e aconselhamento nutricional.
 
Os prestigiosos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) consideram o centro coordenador por Berman “uma instituição de pesquisa de excelência”.
 
Aos 61 anos, o médico é praticante de meditação e tai chi chuan.
 
De sua casa, em Baltimore, ele falou ao reportes Alexandre Salvador.

 
 
COMO BOA PARTE DOS MÉDICOS SE RENDEU AOS TRATAMENTOS COMPLEMENTARES?
 
Foi um longo processo. Lentamente, começamos a perceber que a maioria dos pacientes recorria a outros tipos de terapias, além das oferecidas pela medicina tradicional. Ou seja, os pacientes estavam em busca de algo para o qual a medicina tradicional não tinha resposta, especialmente para os casos de dores crônicas. Isso despertou a curiosidade de muitos de nós para outras abordagens terapêuticas Hoje, boa parte da população dos Estados Unidos busca planos de saúde que ofereçam tratamentos complementares, como acupuntura e meditação. Estima-se que cerca de 70% dos americanos usem os tratamentos alternativos em complemento aos tradicionais.

 
AINDA HÁ, CONTUDO, MUITO CETICISMO NA COMUNIDADE MÉDICA EM RELAÇÃO A TAIS ABORDAGENS, NÃO?
 
Sim, mas desde a criação do nosso centro, há vinte anos, observo mais e mais médicos e acadêmicos deixando o ceticismo de lado. Isso só foi possível porque hoje, graças aos avanços da ciência, conseguimos reunir evidências de que algumas dessas terapias realmente funcionam.
 
No centro da medicina integrativa, dispomos de um banco de dados que reúne 40 000 estudos em andamento sobre o assunto. Na década de 90, eles não passavam de 1 000 Há que considerar, também, que a medicina convencional não oferece respostas para todos os males.

 
"Se um paciente com câncer precisa quimioterapia,
 é inevitável que se submenta ao
bombardeiro medicamentoso e enfrente
seus terríveis efeitos colaterais."
 

 
OS TRATAMENTOS COMPLEMENTARES OFERECEM TAIS RESPOSTAS?
 
O que posso dizer é que as doenças estão mudando. Males como a pneumonia têm causas simples – no caso, uma infecção –, mas várias das doenças da modernidade, como obesidade ou diabete, são crônicas e envolvem uma série de fatores de risco e mecanismos fisiopatológicos.
 
O stress, por exemplo, é um grande problema nos dias que correm e está, na maioria das vezes, na raiz da depressão e dos distúrbios cardiovasculares. Ainda não se inventou uma pílula contra o stress, mas ferramentas como acupuntura, o reiki ou a meditação conseguem aliviar o sofrimento dos pacientes.

 
TRATAMENTOS TRANSCENDENTAIS, COMO CIRURGIAS ESPIRITUAIS, TÊM ALGUMA SERVENTIA?
 
Existem estudos comprovando que a fé tem efeitos positivos na saúde das pessoas. Esses pacientes se sentem mais otimistas em relação aos sucesso dos tratamentos convencionais e, assim, além de se cuidarem mais, eles colaboram mais com os médicos.
 
Mas não existe a cura espiritual.
 
 Eu acredito em uma abordagem integrada.
 
 O objetivo é sempre usar o melhor da medicina convencional e o melhor da medicina complementar em defesa do doente.
 
 Se um paciente com câncer precisa quimioterapia, é inevitável que se submenta ao bombardeiro medicamentoso e enfrente seus terríveis efeitos colaterais. Não tem jeito. No entanto, se ele se sente bem rezando, meditando ou fazendo tai chi chuan, essas práticas devem ser incorporadas à terapia.

 
O QUE O SENHOR TEM A DIZER A QUEM RELUTA EM RECONHECER OS EFEITOS POSITIVOS DA ASSOCIAÇÃO ENTRE A MEDICINA TRADICIONAL E A COMPLEMENTAR?
 
Que é um comportamento inútil.
 
Se alguém tem a perder com isso, esse alguém é o paciente.
 
É preciso pôr o doente, e não a doença, no centro da discussão e perguntar: qual é o melhor tratamento possível para essa pessoa?
 
Frequentemente, a combinação entre a abordagem convencional e as terapias complementares é a melhor saída.
 
 
Fonte: Revista VEJA impressa – Ed.2235 – nº 38 – pág.86/87.
 

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