Acho que 9 entre 10 Brasileiros que passam a procurar o Budismo mais seriamente acabam comprando esta edição do Darmapada da L&PM Editores. E é uma boa ocorrência. O Darmapada (ou “Versículos do darma” ou ainda “A doutrina budista em versos”, como explica o entrevistado) desta editora esta no formato "poket" e vem traduzido direto do páli por Fernando Cacciatore de Garcia, é uma ecxelente porta de entrada para deixar o Budismo de butique cheio de "Oshos" que no final não são nem "Oshos" nem budistas, e passar a buscar as idéias tratadas pelo próprio Budha segundo seus seguidores e praticantes. Um bom começo.
Eu brinco que "estudar" sobre o Budismo sem ler o Darmapada é como buscar o espiritismo sem ler Kardec ou buscar o Candomblé sem ser por um autor praticante de Candomblé. Você terá uma experiencia muito menos qualificada, para dizer o mínimo.
Mas esta é minha opinião. Não sou qualificado para avaliar o caminho ou a credibilidade de ninguém. Mas se querem uma sugestão: SEMPRE BUSQUEM INDICAÇÃO DE PRATICANTES EXPERIENTES para leitura. Se possível, BUSQUEM VERDADEIROS professores do Darma.
Vivemos uma época PRODIGIOSA no nosso país, onde REAIS professores de diversas escolas Budistas VIVEM no Brasil. É preciso apenas COMEÇAR de fato.
Mas tem gente que, como eu, prefere "pesquisar" antes de tentar iniciar uma prática espiritual. Comigo foi assim. Li muito sobre diversas linhas Budistas antes de buscar o Zen. Antes disto busquei conhecer várias experiências de práticas espirituais (falo disto noutra oportunidade, Ok) e me dei oportunidade de vivenciar cada uma tentando evitar a superficialidade.
Voltando ao Darmapada ou "Caminho do Dharma" (em páli: Dhammapada; em sânscrito: Dharmapada) é um escrito budista tradicionalmente considerado como tendo sido composto (narrado) pelo próprio Buda. Está contido no cânon páli Teravada. É o mais conhecido e traduzido texto budista. Compõe-se de máximas em forma de versos agrupados em 423 estrofes. Apesar de sua popularidade, seus méritos literários são motivo de polêmica. Segundo a tradição, os versos do Dhammapada foram ditados pelo Buda em várias ocasiões e momentos históricos diferentes e foram mantidos vivos na memória e na tradição de ensinamentos orais de seus seguidores até serem escritos muitos anos depois de sua morte.
Mas tem gente que, como eu, prefere "pesquisar" antes de tentar iniciar uma prática espiritual. Comigo foi assim. Li muito sobre diversas linhas Budistas antes de buscar o Zen. Antes disto busquei conhecer várias experiências de práticas espirituais (falo disto noutra oportunidade, Ok) e me dei oportunidade de vivenciar cada uma tentando evitar a superficialidade.
Voltando ao Darmapada ou "Caminho do Dharma" (em páli: Dhammapada; em sânscrito: Dharmapada) é um escrito budista tradicionalmente considerado como tendo sido composto (narrado) pelo próprio Buda. Está contido no cânon páli Teravada. É o mais conhecido e traduzido texto budista. Compõe-se de máximas em forma de versos agrupados em 423 estrofes. Apesar de sua popularidade, seus méritos literários são motivo de polêmica. Segundo a tradição, os versos do Dhammapada foram ditados pelo Buda em várias ocasiões e momentos históricos diferentes e foram mantidos vivos na memória e na tradição de ensinamentos orais de seus seguidores até serem escritos muitos anos depois de sua morte.
Mas vamos deixar as explicações para quem sabe:
Está nas livrarias de todo o país a principal e mais difundida obra do cânone budista, o Darmapada (ou “Versículos do darma” ou ainda “A doutrina budista em versos”). Preservados primeiramente de forma oral, os aforismos éticos e morais ditos por Buda foram registrados por escrito no século I a.C., no Ceilão, atual Sri Lanka. Agora, os ensinamentos proferidos por Sidarta Gáutama (aproximadamente 563 - 483 a.C.), o Buda, chegam à Coleção L&PM POCKET traduzidos direto do páli por Fernando Cacciatore de Garcia, diplomata brasileiro aposentado e grande estudioso de Buda, do budismo e do páli. Confira abaixo a entrevista em que o tradutor explica suas motivações pessoais e acadêmicas e como se deu essa tradução do páli, uma forma popular do magádi que era falada por Buda.
Quais foram as suas motivações acadêmicas e pessoais para realizar a tradução de Darmapada direto do páli, um livro considerado difícil de ser transposto para qualquer língua por especialistas?
As minhas motivações foram, sobretudo, pessoais; posteriormente, levei em consideração os aspectos acadêmicos. O fato é que devo esse trabalho à Laosri, minha empregada em Bancoque, a quem dedico essa tradução. Foi ela quem colocou em minhas mãos, sabedora de meu interesse por línguas e budismo, uma versão trilingue do Darmapada, em páli, tailandês e inglês. Como eu leio e falo um tailandês coloquial, tive contato direto com as palavras ditas por Buda com auxílio do texto em inglês. Fiquei maravilhado não apenas com a profundidade de seus conceitos, mas com a simplicidade com que tudo era dito: metáforas, novas e fortes, de outra cultura, elaboradas por Buda há mais de 2.500 anos. Fui então tomado de um imenso desejo de traduzir o texto para o português, de compartilhar a grande descoberta que tinha feito. Para tanto, me valeram a tradição de minha família e a de minha cidade, Porto Alegre. Hamilcar de Garcia, meu pai, começou sua carreira na Editora Globo, nos anos 30, e chegou a substituir Erico Verissimo como secretário-geral da Globo, quando nosso grande escritor foi para os Estados Unidos. Erico deu a meu novato pai uma gramática, um dicionário de inglês e um romance, pedindo que o traduzisse. Resultado: ganhou o prêmio de melhor tradução do ano, dado em São Paulo, e um emprego de tradutor na Editora Globo. Meu pai dizia que as línguas são como cômodas, com muitas gavetas, que não precisamos abrir todas quando traduzimos, somente aquelas que nos interessam. Assim, sem medo do páli, abri a gaveta Darmapada nessa língua – que nunca foi falada por povo algum, pois é invenção de Buda. O trabalho ficou muito facilitado por ser extensíssima a literatura sobre o páli e o Darmapada. Refiro-me aqui ao dicionário e à gramática de páli da Pali Text Society, de Londres, auxiliado pelo texto em inglês, e o glossário de Dines Anderson que contém todas as palavras usadas no Darmapada, em seu contexto, em cada versículo. Assim, comecei a tradução como um autodidata. Contudo, tive o auxílio do velho monge Pra Nathpom (“Venerável Mestre Meu”, tio da Laosri, cujo nome não se podia saber), em cujo templo, Wat Pra Keo, ia de duas a três vezes por semana para conversar com ele. A coragem veio da Editora Globo e da tradição de boas traduções de nossa cidade. Com a publicação do livro se encerra um período de 25 anos de trabalho, pois a comecei em 1984 em Bancoque, onde vivi três anos como Secretário da Embaixada do Brasil. Deixei Bancoque para ir a Bonn, na Alemanha, em 1986.
Conte-nos um pouco do tempo em que esteve na Índia e da sua aproximação com o budismo e seus estudos do páli:
Para a Índia, fui transferido em 1996. Lá retomei a tradução, agora com mais ímpeto, beneficiando-me de duas coisas: em primeiro lugar de uma grande biblioteca sobre Buda, budismo, páli e Darmapada, depois, de Lekhnath Gyawali, meu housekeeper (governante-cum-mordomo-faxineiro-e-cozinheiro), da casta brâmane. Era um brâmane de casta e sentimentos, muito douto, que sabia várias línguas, inclusive sânscrito (a língua do hinduísmo) e páli. Ele então se transformou em meu professor, fazendo comigo o que faria com seus filhos, pois na Índia não há “escolas” para brâmanes (sacerdotes hinduístas), que aprendem textos, dogmas, doutrinas e rituais em casa. Com o auxílio de Lekhnath (cujo nome quer dizer “professor de letras”), em 1998, em Nova Delhi, terminei a tradução que começara em Bancoque em 1984. Além disso, é preciso esclarecer que, hoje, o budismo é muito pouco difundido na Índia. Foi a religião predominante de 200 a.C a 200. d.C, mas quando o hinduísmo considerou, naquela última data, que Buda era uma reencarnação de Vixnu, o budismo foi perdendo cada vez mais adeptos, sendo que, atualmente, há muitíssimo mais cristãos na Índia que budistas. As duas religiões, aliás, são dura e violentamente atacadas pelos hinduístas e maometanos ainda hoje. Para minha tradução, contudo, foi grande o estímulo de poder traduzir o Darmapada na terra de Buda, tendo podido também visitar os principais lugares por onde ele passou, como, por exemplo, Bodh-gaya, local da Iluminação, e Saranate, lugar do primeiro sermão. Tudo isso, mais o meu caro e fiel Lekhnath, fizeram com que eu desse o melhor de mim nessa tradução.
Qual foi a metodologia utilizada para traduzir as 423 estrofes que compõem o livro?
A metodologia principal foi considerar cada uma das 423 estrofes como uma unidade. Geralmente, elas têm apenas quatro linhas. Assim, traduzir o Darmapada passo a passo foi um excelente exercício para aprender páli. Contudo, ao contrário do que as pessoas imaginam, não é necessário falar uma língua para traduzi-la (palavras de meu pai, que hoje constato). O que sim é necessário é conhecer seu vocabulário, gramática, literatura, regras da linguagem poética, etc. Sendo os versículos do Darmapada curtos, a tarefa do tradutor fica bem fácil. Tanto mais que Buda queria ser entendido com facilidade por todos, e o páli é uma língua muito sintética, com imediato impacto no leitor. Isto nos possibilitou outra linha metodológica, qual seja, de traduzir cada linha com o mesmo conteúdo delas em páli. Desta forma, não alteramos, em 95% dos versos do Darmapada, a ordem das ideias de Buda. Ademais, como método, nos fixamos no número de sílabas de cada verso, para transmitirmos o pensamento de Buda com sua simplicidade e força. Do mesmo modo foi com o estilo poético: tratamos de traduzir a grande delicadeza de Buda e seus maneirismos pessoais ao falar, tal como o uso do expletivo enfático “hi”, que traduzimos por “sim”. “Ele, sim, eu considero um brâmane”. Com esse método, acho que conseguimos, além de transmitir os conceitos do budismo e as belas ou fortes – mas ainda frescas – metáforas de Buda, fazê-lo de modo muito próximo. Para mim, além da precisão conceitual, o que mais me dá satisfação nessa tradução é seu valor literário, pois pode ser ela lida alto, de modo espontâneo em português, como se o próprio Buda estivesse falando, e ser facilmente compreendida. Ou seja, além de minha motivação pessoal – transmitir aos outros uma grande descoberta – minha segunda motivação foi literária, fazer uma tradução com mérito próprio, que transmitisse a linguagem poética de Buda, não sua língua, o páli.
Em seu depoimento, Tilak Karyiawasam, diretor do Instituto de Pós-Graduação em Páli e Estudos Budistas da Universidade de Kelanyia, elogia as notas de tradução. Qual foi sua intenção nas notas de tradução e como elas foram criadas ao longo do trabalho?
Como disse, reuni nesses 25 anos uma pequena biblioteca sobre Buda, budismo, páli e o Darmapada. Sendo esse um texto de 2.500 anos, nada mais normal que vários aspectos, sejam coisas, costumes ou ideias, tenham sofrido alteração e necessitem de explicações fora do texto. Ademais, existem vários termos técnicos no budismo e vários ensinamentos de Buda que requerem explicações para serem compreendidos. Por exemplo: Buda constatou a existência de infinitos mundos paralelos e contemporâneos, são eles explicados em nota logo no primeiro capítulo. Como são muitas as notas, elas foram colocadas no fim do volume, para não interromper a leitura com constantes buscas de termos que requerem explicações. Mas a grande maioria das estrofes vem sem notas e sua compreensão é imediata pelo leitor.
Sua tradução foi tema de um painel com especialistas do Instituto de Pós-Graduação em Páli e Estudos Budistas da Universidade de Kelanyia, no Sri Lanka, o qual teve cinco horas de duração. Qual foi o motivo de tal iniciativa e a principal contribuição para a tradução?
Mesmo que minhas motivações tenham sido primeiramente pessoais, não ficaria contente com meu trabalho se não ele passasse pelo crivo do conhecimento acadêmico; para não fazer uma tradução bonita que fosse, mas com os pés quebrados por conceitos mal traduzidos. Assim, quando ainda estava em Nova Delhi, atuando como encarregado de negócios de nossa Embaixada, pedi ao nosso cônsul honorário em Colombo, no Sri Lanka – país essencialmente budista, ao contrário da Índia –, que reunisse um painel de especialistas em Buda, budismo e páli para inspecionar minha tradução. Meu pedido foi atendido em dezembro de 1998, na Universidade de Kelanyia, nas proximidades de Colombo, uma universidade que estuda tais assuntos desde 1870. As perguntas que me fizeram versavam sobre muitos aspectos que apresentam dificuldades não apenas para os tradutores de outras línguas, mas para os próprios intérpretes do Darmapada em páli. A maior parte da discussão versou sobre os dois primeiros versos do Darmapada. Mas a elogiosa conclusão dos debates que recebi sob forma de carta – e que expressa o desejo de que minha tradução se transforme no texto-padrão em português – veio, em minha opinião, em primeiro lugar, por eu não ter traduzido os conceitos do budismo, mas sim tentado adaptá-los ao português. Já temos carma e nirvana, mas precisamos em nossa língua de termos como darma, canda, sancara, samsara, sanga, etc. Depois, o que impressionou os painelistas foi o fato de eu ter conseguido manter em cada linha o pensamento original de Buda e meu cuidado em transmitir seu estilo suave, educado, respeitoso, elegante e amigo. A principal contribuição do painel para a tradução foi dar força à decisão que tomara de não traduzir os conceitos, mas tratar de introduzi-los no português. Os dois primeiros versos também não foram “traduzidos”, mas rendidos em português tal qual em páli “Ó mentiprecedidos darmas/mentilevados, mentifeitos.” Esta é a única tradução em língua europeia que o faz assim, resolvendo diplomática e academicamente a questão. As notas explicam seu significado. Acho que fiz bem em submeter meu trabalho aos especialistas do Ceilão. A tradução melhorou muito e conseguiu a chancela da academia para meus objetivos pessoais e literários.
O Darmapada já havia sido traduzido para o português? Quais os diferenciais da sua versão em relação às traduções existentes?
Quando comecei a tradução do Darmapada, em 1984, pensei ser a primeira. Em Portugal, a academia portuguesa me disse que lá nunca tinha sido feita, apenas em parte. Mas depois fiquei sabendo que havia duas traduções para o português do Brasil, uma delas direto do páli. A que foi traduzida de outras línguas tem o mérito de ser facilmente compreensível, mas tem também as limitações de uma tradução de segunda ou terceira mão. A traduzida diretamente do páli por um monge budista de São Paulo é extremamente douta, mas, por respeito ao idioma páli, o português ficou muito contaminado e, muitas vezes, as estrofes são de difícil compreensão. Dou um exemplo: dei a meu chofer aqui em Porto Alegre, muito admirador do budismo, certa estrofe da tradução do monge paulista para que ele lesse. Não conseguiu entender. Dei a mesma, na minha tradução. Entendeu tudo. Sua surpresa me surpreendeu. “Como é possível, Ministro Fernando, que, sendo as duas em português, uma eu não entendi e a outra sim?”. Penso nisto até hoje. Talvez porque nenhuma dessas duas traduções pretendeu fazer não uma tradução literal, como a do monge, mas uma tradução literária. Graças de novo a nossa tradição da Editora Globo consegui, mantendo a precisão de conceitos, fazer da minha tradução uma tradução literária. As outras tratam de traduzir a língua páli, o que é impossível... Agradeço, pois, à Editora Globo e seus próceres!
Como estudioso do páli e do budismo, qual a importância desse lançamento? O que esse texto representa para os seguidores de Buda?
Acho que faltava entre nós uma tradução que fosse ao mesmo tempo erudita, aprovada pela academia, com valor literário próprio, e fácil de ser compreendida. Isto porque, mantidas as devidas proporções, o Darmapada poderia ser considerado a Bíblia budista. Para os seguidores de Buda acho que a edição da Coleção L&PM POCKET – com sua belíssima capa, a mais bela de tantos Darmapada que tenho em línguas europeias e asiáticas – vai ser muito bem recebida. E com alegria! Tal como disse o Professor Tilak Karyiawasan, o Darmapada é “texto sagrado do budismo, que é um tesouro da literatura mundial”. Em suma, o Darmapada é mais que uma obra literária de imensa beleza e simplicidade, com intuições e ensinamentos inigualáveis sobre a condição humana; é um texto sagrado, de uma das mais importantes crenças do planeta, e que pode ser lido por qualquer membro de qualquer religião, se visto como obra de autoajuda. Disse Buda, no Darmapada “Somos nosso próprio refúgio; quem melhor poderia sê-lo”. O Darmapada é, pois, um potente auxiliar para que nos reconfortemos, para que encontremos refúgio e consolo num mundo com crises cada vez mais amplas e definitivas. Para o homem comum, é isto que pretende o budismo e o Darmapada: localizar a origem de nosso sofrimento em vida, como acabar com ele e, a partir disto, nos tornarmos mais felizes aqui e agora.
Grato a Sensei Isshin que achou esta entrevista.
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