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[Advaita] Não fuja da tristeza.
Não fuja da tristeza. Ela pode conter a cura.
Eu sempre fico animado quando alguém relata uma tristeza inexplicável e sem causa, aparentemente sem relação com as circunstâncias da sua vida. Eu percebo a tristeza, assim como todas as outras ondas no oceano da vida, como um convite, uma invocação, um chamado para se abrir para verdades mais profundas sobre a existência, para reconhecer nossa vastidão inerente.
A vida é adridoce. Apesar da beleza que existe agora, eles vão passar. Tudo é impermanente e sem base fixa. Você vai morrer, pelo menos nesta encarnação. Todos que você ama vão passar. Seu sucesso pode tornar-se fracasso. O que você tem, você pode perder. Seu corpo vai deixar de funcionar da forma que funciona agora. Nada é certo, tudo é sujeito à dúvida. A água da existência relativa desliza tão facilmente por entre os dedos. Nossa alegria é tingida com tristeza. Nossa felicidade é perfurada pela nostalgia. O yin e o yang das coisas não vai deixar você se ficar em pé sobre apenas um oposto. Aqui não há abrigo permanente para os sem-teto.
Contactar com esta verdade mais profunda, a verdade agridoce da existência, encontrar a base nua da existência, de forma desprotegida e despreparada pode se apresentar inicialmente como melancolia e até mesmo desespero, mas esta perturbação existencial podem conter riquezas ilimitadas.
No ponto do desespero, quando o chão se abre debaixo de nossos pés e as nossas vidas saem do controle (alguma vez a vida esteve “sob controle”?), neste ponto é que muitas vezes somos medicados, ou nos auto-medicamos, com comprimidos, sexo, álcool ou meditação. A ciência gostaria de reduzir a nossa situação existencial humana a uma disfunção de substâncias químicas cerebrais, facilmente corrigidas com alguns inocentes comprimidos prescritos por alguém com um certificado conquistado a duras penas. E talvez essas teorias tenham validade – através de certas lentes. Mas há tantas outras lentes. Infinitas lentes. Há múltiplos lados neste diamante da experiência humana, e seria uma vergonha nos reduzirmos a produtos químicos ou neurônios.
Se Jesus tivesse tomado anti-depressivos na cruz, ele – e nós – teria perdido a questão importante do momento.
Talvez a nossa depressão seja uma doença (embora eu nunca vá discutir com quem defenda esse ponto de vista), mas talvez ela seja um chamado para sair, para deixar ir, para perder as velhas estruturas e as estórias que temos colocado sobre nós mesmos e sobre o mundo e então descansar profundamente na verdade de quem realmente somos. A sabedoria convencional indicaria para se afastar de melancolia em vez de encará-la. Bem-intencionados amigos, familiares e gurus de auto-ajuda podem querer corrigir você, para você ‘voltar ao normal’, para torná-lo mais “positivo”, o que quer que isso signifique. E se o “normal” não se encaixar mais? E se você precisa abandonar a sua pele que já iniciou o processo de troca, e não tentar vesti-la novamente? E se a tristeza, dor, medo e todas as ondas no oceano da vida só querem penetrar em você para, finalmente, expressarem-se criativamente e não para ser empurradas para fora?
E se você não for tão limitado como você foi levado a acreditar que você era? E se você for grande o suficiente para sustentar e conter todas as energias da vida, o “positivo” e “negativo”? E se você estiver além de ambos, for um oceano de consciência, unificado, sem limites e livre, em que até mesmo desespero mais profundo tem um lugar de abrigo?
E se a sua depressão foi simplesmente um chamado de si mesmo para voltar ao Lar, da única maneira que você saberia chamar?
- Jeff Foster – http://www.lifewithoutacentre.com/
Jeff Foster formou-se em Astrofísica pela Universidade de Cambridge em 2001. Vários anos depois da formatura, após um período de depressão grave e doença, tornou-se viciado na idéia de “iluminação espiritual”, e embarcou em uma intensa busca espiritual que durou vários anos. A busca espiritual desabou com o claro reconhecimento da natureza não-dual de tudo. Jeff atualmente realiza reuniões e retiros em todo o mundo, sua abordagem intransigente, cheio de humor e compaixão, ilumina e expõe o mecanismo de busca – o mecanismo por trás de todo o sofrimento – revelando a liberdade incondicional e facilidade que já está sempre presente, bem no meio do ser humano drama, e dentro de cada experiência.
Os textos de Jeff no zafu.blog.br estão traduzidos e publicados com autorização do autor.
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