Volta e meia tenho repetido minha preocupação com a forma com que as pessoas tem tratado seu dinheiro... suas finanças.
Parece que não é só eu.
Parece que não é só eu.
A ciência garante: quando o assunto é grana, nosso cérebro costuma nos trair. Entenda o que está errado em suas decisões e cuide melhor das suas finanças
por Tiago Mali, com reportagem de Felipe Datt
Nem
bem o 13º entrou, você já gastou em compras desnecessárias. Ou pior:
pegou um empréstimo no banco antecipando o pagamento e, em vez de
dinheiro a mais, chegou ao fim do ano com outra dívida. Você não é
exceção, mas parte de uma regra cruel cada vez mais estudada por
cientistas: ganhar um bônus pode aumentar as dívidas. Não parece
racional, mas várias das nossas decisões financeiras não são.
Tendemos a comprar mais quando a loja só permite pagar com
cartão. E as vendas de um produto crescem com promoções tipo “leve 4 por
R$ 2”, sendo que cada unidade custaria mesmo R$ 0,50. Pois é, se
fôssemos sempre lógicos, como explicar levantamentos mostrando que a
bolsa tende a subir em dias ensolarados e a cair quando o país é
eliminado da Copa do Mundo? (Sim, essas pesquisas foram feitas por
professores da Universidade da Califórnia e da Pensilvânia).
Caminhos irracionais de consumo como esses são objeto de estudo da
economia comportamental. Em vez de analisar taxas e índices financeiros,
ela usa experimentos de psicólogos para entender como decidimos. “A
economia tradicional afirma que as pessoas fazem escolhas depois de
analisar as possibilidades racionalmente. Mas estudos mostram que, em
alguns casos, tomamos decisões intuitivamente”, diz o psicólogo Thomas Gilovich, um dos principais nomes da pesquisa na área.
A maioria dos experimentos sobre o assunto segue uma noção
consolidada na psicologia de que nossa mente funciona de duas formas.
Uma delas é intuitiva, rápida, automática, se baseia em experiências
passadas. Quando perguntam quanto é 2+2, você usa o modo automático. O
outro sistema de pensar é mais lento, racional e demanda concentração e
esforço para analisar situações. É acionado quando temos de responder
quanto é 17x24, por exemplo.
Na maioria das
vezes, funcionamos no modo automático, já que ligar o modo mais
analítico o tempo todo demandaria intensa atenção e concentração. Isso é
bom, caso contrário gastaríamos horas em cada decisão. No modo
automático, nossa tendência é chutar uma resposta sem recolher muitas
informações, seguindo padrões memorizados pelo cérebro. Como nossa mente
é capaz de identificar padrões incrivelmente complexos, a maior parte
desses chutes estão certos.
O problema é que esse
comportamento inconsciente também cria padrões que nos prejudicam, como o
excesso de confiança ao mexer com dinheiro. “Isso ajuda em encontros
amorosos ou entrevistas de emprego, mas pode fazer você achar que manja
tudo sobre ações após ler algumas notícias ou que vai comparecer tanto à
musculação que vale a pena pagar o plano anual da academia”, diz Gary
Belsky, especialista em economia comportamental e autor do livro Proteja
seu Dinheiro de Você Mesmo. Costumamos avaliar mal os riscos, mudar
nossa decisão de acordo com a forma que a pergunta é feita e comprar
mais por conta de coisas irrelevantes — cheiros, sons e até a posição do
produto na prateleira. “Marqueteiros e vendedores sabem disso há muito
tempo e nos manipulam”, afirma o Ph.D. em psicologia Baruch Fischoff,
pioneiro da área.
A economia comportamental
ganhou espaço depois da crise econômica de 2008. De lá pra cá, um de
seus representantes, Cass Sunstein, virou assessor do presidente
americano Barack Obama e outro, Richard Thaller, foi chamado pelo
governo britânico para palpitar em políticas públicas. Além disso, o
prêmio Nobel de economia Daniel Kahneman acaba de lançar o livro
Thinking, Fast and Slow (Pensando, Rápido e Devagar, sem edição no
Brasil), sua primeira obra sobre o tema para leigos, que entrou nos 10
mais vendidos do jornal The New York Times. Estudiosos defendem que,
quando se trata de decisões financeiras, somos induzidos ao erro de
tantas maneiras que o governo deveria era interferir, manipulando
sutilmente nossas escolhas (veja quadro A manipulação “para o bem”, à
frente).
Mas antes que o governo se meta,
Galileu reuniu os 10 principais enganos que podem afetar seu saldo
bancário. Saiba identificá-los e fuja das armadilhas e golpes de
marketing que prejudicam suas finanças. Afinal de contas, o cliente
quase nunca tem razão.
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