Carl Ransom Rogers (8 de janeiro de 1902, Oak Park, Illinois, EUA - 4 de fevereiro de 1987, La Jolla, Califórnia, EUA), Psicólogo norte-americano que foi o primeiro a gravar sessões psicoterapêuticas, com as devidas permissões, tornando possível o estudo objetivo de um processo eminente subjetivo. Em consequência, foram feitas algumas constatações até então impensadas, como a de que o motivo da melhora dos clientes ocorria independente do motivo pelo qual os terapeutas acreditava em que os estavam beneficiando. Comparando-se análises feitas por observadores neutros, verificou-se que elas coincidiam mais com as dos próprios clientes que com a dos psicoterapeutas, ou seja, os primeiros é que percebiam melhor o que realmente os ajudava e o quanto estavam sendo compreendidos ou não por quem os atendia. Sua dedicação à construção de um método científico na psicologia foi reconhecido por prêmio da Associação Americana de Psicologia, da qual também foi eleito presidente, em 1958. Seus métodos científicos estão descritos em livros traduzidos no Brasil como "A Pessoa como Centro" e "Um jeito de ser". “Subvertendo” a “relação de poder” terapeuta-cliente (decorrente do pressuposto, até então, de que psicólogos e psiquiatras é que detinham o conhecimento da subjetividade de seus pacientes)seu trabalho "suberteu" também outras áreas, o que só se tornou visível para o próprio Rogers após décadas de atividades, como relatou em uma de suas últimas e melhores obras, “Sobre o Poder Pessoal” – livro em que traça, por exemplo, um paralelo entre suas descobertas e as de Paulo Freire e de sua “pedagogia do oprimido”. Fruto de suas pesquisas, sistematizou o método da “Terapia centrada no cliente” que depois evoluiu para a “Abordagem centrada na pessoa”(ACP), mas ele próprio afirma que seu objetivo nunca fora criar um sistema próprio de psicoterapia e sim estudar os critérios necessários para a evolução da psicoterapia científica como um todo. É considerado um precursor da psicologia humanista e criador da linha teórica conhecida como Abordagem Centrada na Pessoa (ACP).[*]
Carl Rogers acreditava que todos os seres humanos são motivados fundamentalmente por um processo voltado para o crescimento, que ele denominava tendência para a realização.
A tendência para a realização
Rogers teorizou que todas as motivações estão incluídas num processo fundamental, a tendência para a realização, que consiste na tendência do ser humano expressar toda sua capacidade tanto orgânica quanto do eu.
A tendência ampla e geral da natureza para o desenvolvimento é chamada de tendência formativa. O aspecto especificamente humano da tendência formativa é a tendência para a realização.
Não nos comportamos de maneira irracional, como afirmava a psicanálise. “Nosso comportamento é primorosamente racional, avançado com uma complexidade sutil e ordenada rumo aos objetivos que o organismo está empenhado em alcançar” (Rogers, 1983).
O processo organísmico de valoração
A pessoa que se auto-realiza (ou funciona plenamente) está em contato com a experiência interna que é inerentemente produtora de crescimento, o processo organísmico de valoração. Ele viria a ser um guia subconsciente que avalia e orienta a pessoa para experiência que promova o seu crescimento e afasta daquelas que possa inibi-lo. Porém com o desenvolvimento, as pessoas deixam de se guiar por suas experiências internas e as substituem pelas regras exteriores, que para Rogers isso interfere no desenvolvimento psicológico.
Mas o que acontece com pessoas que são emocionalmente perturbadas e com os criminosos? Rogers acusava que as forças sociais fazem com que as pessoas percam contato com suas experiências internas que a levariam para o crescimento. Isto ocorre devido a uma desconsideração dos sentimentos internos, pois ouvem dizer que esses sentimentos são ruins. É o medo e a atitude defensiva das pessoas, e não forças internas más, que as levam a se tornarem destrutivas.
A pessoa que funciona plenamente
Uma pessoa que presta atenção ao processo organísmico de valoração é auto-realizada, ou funciona plenamente. Esta pessoa não perde o uso de algumas das funções humanas mesmo sendo “corrompida” pela sociedade
Uma pessoa que funciona plenamente apresenta algumas características. Essas características podem ser interpretadas como sinal de saúde mental:
- Abertura para experiência – a pessoa que funciona plenamente ela é receptiva para os acontecimentos subjetivos e objetivos da vida. Elas também toleram uma ambigüidade na experiência, ou seja, uma situação que se mostra de determinada maneira e um determinado momento pode se mostrar alterada em outro momento.
- Vida existencial – é uma tendência crescente para viver cada momento. A experiência muda, e cada momento permite que o eu se manifeste de forma alterada pela nova experiência.
- Confiança organísmica – a pessoa confia sempre na sua experiência interna para guiar o seu comportamento. Essa experiência é precisa.
- Liberdade de experiência – é a liberdade de escolha. Essa escolha é subjetiva e não nega que haja determinismo no mundo.
- Criatividade – a pessoa encontra novas maneiras de viver cada momento, em vez de estar preso a padrões antigos e rígidos que não são adaptativos.
O Self
Rogers empregou dois termos, o self ideal e o self real, porém esses termos são originários da teoria psicanalítica.
Self ideal seria aquilo que você gostaria de ser, como você se imagina ser, já o self real é quem você realmente é, e é onde contém a tendência para a realização.
Terapia centrada no cliente
Rogers acreditava que a terapia poderia ajudar as pessoas a se unir novamente com o processo organísmico de valoração. Pelo fato de orientar-se pelos insights do cliente e não do terapeuta, essa abordagem foi denominada de terapia centra no cliente. O foco é na experiência do cliente e principalmente nos sentimentos, para que se possa mobilizar a força geradora de crescimento da tendência para a realização.
Rogers desenvolveu sua técnica terapêutica longe da academia. O que o guiou foi, “o que funcionava” e não qualquer consideração teórica.
Ele se convenceu de que os preconceitos teóricos interferiam no progresso terapêutico. Acabou deixando as teorias de lado e começou a ouvir o que os seus clientes diziam e descobriu que as experiências dos clientes forneciam direções muito mais valiosas para o crescimento. Por dar ênfase na experiência e direção do cliente, Rogers chamou esse método de terapia centrada no cliente.
Também foram desenvolvidas seis condições para que haja um progresso terapêutico, mas as principais são três: compreensão empática, congruência e consideração positiva incondicional.
Em linhas gerais, a consideração positiva incondicional (também pode ser chamada de apreço) é você aceitar a pessoa como ela é e demonstrar uma consideração positiva por ela. É aceitá-la sem ser preciso que se faça ou seja algo diferente do que realmente é. Empatia, ou compreensão empática, é se colocar no lugar da outra pessoa, ver o mundo com olhos dela e sentir o que ela sente, ou pelo menos procurar isso. Congruência, seria a coerência interna do terapeuta, ou seja, ele demonstrar o que ele realmente está sentindo.
Na abordagem rogeriana, para se aplicar o seu método na psicoterapia, não existe uma “técnica”, mas sim o amadurecimento do psicoterapeuta, já que as condições desenhadas por Rogers tem que surgir de forma natural e espontânea. Por exemplo, não se tem como simular a afetividade, ou seja, não se pode ter a consideração positiva incondicional se a mesma não surgir com sinceridade do próprio terapeuta. O mesmo acontece com a empatia e a congruência. Por isso se diz que não existe uma “técnica rogeriana”, mas sim psicólogos cuja conduta pessoal e profissional mais se aproximam da perspectiva de Carl Rogers.
Segundo Rogers, quando se cria um clima terapêutico com as três características acima descritas (consideração positiva incondicional, congruência e compreensão empática), haverá um resultado terapêutico positivo. Nesse caso, o cliente desenvolverá uma quantidade maior das características saudáveis das pessoas auto-realizadas, incluindo abertura para a experiência, auto-aceitação e confiança na experiência organísmica.
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