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O Combate do Darma


Qual o Significado de Hossenshiki ~ A Cerimônia de Combate do Darma !


Novembro 27, 2008. Publicado por 
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Um dos momentos mais marcantes do treinamento de um monge da tradição Soto Zen é a Cerimônia de Combate do Darma (Hossenshiki ). Em alguns lugares esta cerimônia é realizada no início de seu período de treinamento como Shuso (líder dos noviços) e, em outros lugares, é realizado no final do mesmo período.
É a grande cerimônia pública do “unsui” (monge-em-treinamento), pois a Cerimônia de Transmissão do Darma – que, futuramente, finalizará o seu treinamento formal – é uma cerimônia fechada, particular entre o aluno e seu professor de transmissão (Honshi). 

A Cerimônia de Combate do Darma é uma cerimônia enérgica e dramática, que pode exigir meses de preparação. Até hoje, fico emocionada quando me lembro da minha , em 2003, no mosteiro feminino em Nagoya, Japão. Foi muito forte.

Mas o que significa esta cerimônia? Em primeiro lugar, representa o final da fase do treinamento como “noviço” (jôza) e a transição para o período de treinamento como “monge-aprendiz” (zagen). Corresponde aproximadamente à formatura do seminário de um futuro presbítero (padre) católico. Não são todos os monges-noviços que recebem o convite de ser shuso – nem todos passam para a etapa seguinte. Nem todos se formam no seminário… Geralmente, porém, quem passa pela Cerimônia de Combate do Darma, recebe a Transmissão do Darma, cedo ou tarde…

Geralmente, representa um reconhecimento público do aluno ter aprendido os aspectos “técnicos” básicos – cerimonial e procedimentos de nossa tradição – e significa o aval do professor de que o aluno tenha alcançado um certo nível de compreensão do Darma, mesmo que essa talvez não seja uma compreensão “profunda” ainda… Alguns professores, porém, nomeiam o shuso por antiguidade. Assim sendo, pode haver variações de acordo com a linhagem.

Nesta cerimônia, o shuso, após a recitação do Sutra do Grande Coração da Compaixão, faz – em bom e alto som – a recitação de um caso do Shôyôroku. Em seguida, recebe do Professor de Treinamento (Hôdôshi), o “shippei”, que simboliza a “espada que tira e dá a vida”. Depois de uma fala de abertura, no qual o shuso “desafia” os presentes a questiona-lo, inicia-se um “mondo” (perguntas e respostas sobre o Darma), durante o qual os outros noviços testam a compreensão do Darma do shuso. Este questionamento pode ser feito de uma forma “formal” e memorizada, usando “casos” históricos – neste caso, o Combate do Darma acontecerá num nível sutil, “energético”. Outras vezes, este questionamento pode ser feito de uma forma “espontânea”, sem que o shuso saiba, de antemão, o teor das perguntas que terá que responder.

Como havia duas americanas em treinamento no meu mosteiro na época do meu próprio Combate do Darma, pude ter uma experiência com o questionamento “formal” decorado, em japonês clássico, e o questionamento espontâneo, na minha língua materna, o inglês. Vejo grande valor nos dois sistemas. Aqui no Ocidente, vi cerimônias de “combate do darma” que mais pareciam simples “bate-papos agradáveis” e espero que possamos manter a tradição do “combate”. Acho importante que a “energia” de “combate do darma” seja mantida, pois acredito que pode ser valiosa no desenvolvimento do monge-em-treinamento.

Terminado os questionamentos, o shuso devolve o “shippei” e faz uma fala final que encerra o Combate propriamente dito. A Cerimônia é finalizada com as declamações de poemas de congratulações por parte dos presentes e... fotos.

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Como parte deste cerimonial, no dia anterior à Cerimônia, há uma Palestra do Darma. O atendente do professor (“jisha”) leva um “sambo” (suporte cerimonial) com uma cópia do “Shôyôroku” (“Livro da Serenidade”) até o professor para que este inicie uma Palestra do Darma. Neste momento, o professor formalmente convida o aluno a dar a palestra no seu lugar e o “sambo” é levado até o Shuso, que fará a palestra. No meu caso, porém, não foi possível eu dar qualquer palestra, pois não falava Japonês suficientemente bem. Assim sendo, a Aoyama Roshi deu esta palestra “no meu lugar”. Guardo, com muito carinho, uma foto mostrando eu, depois de receber o “sambo”, o entregando a Aoyama Roshi. Ela, vendo as minhas anotações (a minha “cola”) em “romaji” (letra ocidental), sorriu – e eu sorri de volta – num momento de carinho e cumplicidade… Agradeço este (entre tantos outros) gesto de compaixão desta grande Roshi, a minha Professora de Treinamento (“Hôdôshi”).
Para este cerimonial (a Palestra de Darma e Hossenshiki), o Shuso veste uma faixa branca na parte superior de seu Kesa (manto de Buda) e na parte interior das mangas de seu “koromo”.

Terminado o seu período como noviço-líder (shuso), ainda é um monge-em-treinamento (“unsui” – nuvem-água) mas já é um “sempai”, um veterano, apto a começar o seu treinamento de liderança, inicialmente orientando os noviços e, futuramente, possivelmente, passando a liderar grupos de prática, sob a supervisão de seu professor.

O seu registro como monge-em-treinamento (“unsui”) na Escola Soto Zen (Soto Shu), que tinha um prazo de validade de 10 anos até então, passa a ser um registro definitivo (ainda como monge-em-treinamento) no final do período de treinamento monástico, e, geralmente, corresponde aproximadamente ao término da fase de shuso.

O “unsui” ainda está no meio do caminho de seu treinamento. É um “sempai”, um veterano, mas ainda usa o Kesa preto de monge-em-treinamento…

. Assistir parte de uma cerimônia de Combate do Darma no Japão (em japonês – mesmo assim dá para entender muita coisa do espírito e energia da cerimônia)

. Assistir ao vídeo da Cerimônia de Hossenshiki de Monge Genshô, realizada no dia 17 de outubro de 2008, em Florianópolis:

. Parte 1:


. Assistir ao parte 2

. Ver fotos da minha cerimônia de Hossenshiki, no Mosteiro Feminino em Nagóia, Japão, no ano 2003.

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