Um de seus alunos ia afugentar o pequeno gato mas o professor não permitiu. Novamente pegou leite e um pote e deixou do lado de fora do Zendô junto a porta. O gato bebeu o leite e deitou na almofada olhando para tudo com preguiça.
Isto se repetiu por uns dias até que um aluno, quando via o mestre na subida para o Zendô já trazia uma almofada em um pote com leite para o “gato do professor”.
Os dias passaram e o mestre zen se tornou responsável pelo mosteiro de Mayu Kagi. Lá manteve-se a rotina, durante as aula de meditação, mantinha o gato ao seu lado - para desfrutar o mais possível de sua companhia.
Certa manhã, o mestre - que já estava bastante velho – foi encontrado morto. O discípulo mais graduado ocupou seu lugar.
- O que vamos fazer com o gato? - perguntaram os outros monges.
Numa homenagem à lembrança de seu antigo instrutor, o novo mestre decidiu permitir que o gato continuasse freqüentando as aulas de zen-budismo.
Alguns discípulos de mosteiros vizinhos, que viajavam muito pela região, descobriram que, num dos mais afamados templos do local, um gato participava das meditações. A história começou a correr.
Uma geração se passou e começaram a surgir tratados técnicos sobre a importância do gato na meditação zen. Um professor universitário desenvolveu uma tese - aceita pela comunidade acadêmica - que o felino tinha capacidade de aumentar a concentração humana e eliminar as energias negativas.
E assim, durante um século, o gato foi considerado como parte essencial no estudo do zen-budismo naquela região.
Até que apareceu um mestre que tinha alergia a pelos de animais domésticos e resolveu tirar o gato de suas práticas diárias com os alunos.
Houve uma grande reação negativa - mas o mestre insistiu. Como era um excelente instrutor, os alunos continuavam com o mesmo rendimento, apesar da ausência do gato.
Pouco a pouco, os mosteiros - sempre em busca de idéias novas, e já cansados de ter que alimentar tantos gatos - foram eliminando os animais das aulas.
Na minha versão a moral é que a prática se dá NA PRÁTICA. Com ou sem gatos. Com ou sem retóricas a defender.
Versão do Paulo Coelho: http://warriorofthelight.com/port/edi13_import.shtml
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