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Lavar a louça, beber o chá, mudar e iluminar-se

Um monge, certa vez, veio até Joshu na hora do café da manhã e disse:

"Acabei de entrar neste mosteiro. Por favor, ensine-me."

"Você já tomou seu mingau de arroz?", perguntou Joshu.

"Já, sim", replicou o monge.

"Então é melhor lavar sua tigela", disse Joshu.



Joshu estava dizendo para o monge que o sabor do Zen e o sabor do mingau de arroz é único e o mesmo.

Não é que exista qualquer coisa de especial no mingau de arroz; simplesmente não existe nada de especial no Zen.

O Caminho do Zen é o caminho da vida cotidiana.

Entretanto, do ponto de vista do jovem monge, isto é duro de aceitar.

E tudo muito instigante para procurar um significado escondido, esotérico.


Disse o Mestre Zen Thich Nhat Hanh
Segundo o Sutra da Mente Desperta enquanto se lava a louça, deve-se somente lavar a louça, o que quer dizer: enquanto se está lavando a louça, deve-se estar totalmente cônscio do fato de que se está lavando louça.


A princípio pode parecer uma tolice: por que dar tanta importância a uma coisa tão simples? Mas a questão é justamente essa.
O fato de eu estar nesse lugar, lavando essa louça, é uma realidade maravilhosa.
Eu aí estou totalmente cônscio de mim, acompanhando minha respiração, sentindo minha presença, observando meus pensamentos e ações. Não há como minha mente se dispersar como a espuma das ondas batendo contra os penhascos.

Se ao lavarmos a louça ficarmos com o pensamento voltado apenas para a xícara de chá que saborearemos a seguir, a tarefa se torna um fardo. Procuraremos automaticamente limpar a louça às pressas para nos livrarmos da chateação e não estaremos “lavando a louça por lavá-la.” E mais, nós não estaremos vivos durante o tempo em que a estivermos lavando. Estaremos na verdade sendo incapazes de reconhecer o milagre da vida enquanto à beira da pia. E se não somos capazes de lavar a louça por lavar, é pouco provável igualmente que seremos capazes de saborear o chá a seguir. Pois, ao tomar o chá, estaremos com o pensamento voltado para outras coisas, inconscientes do fato de que temos uma xícara nas mãos. Dessa forma estaremos sendo sugados para fora da realidade presente – e incapazes de viver em totalidade um minuto sequer.
Thich Nhat Hanh, em Para viver em Paz, o Milagre da Mente Alerta, Editora Vozes, Petrópolis, 2005


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