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Bossa Zen: Bossa Zen Entrevista Félix Maranganha

/postado no Bossa Zen postado por Jeane Dal Bo




Félix Maranganha-Escritor, poeta, linguista e Zen Budista. Não há o que não interesse a esse cabra (com todo respeito). Poesia, literatura, filosofia, linguística, idiomas modernos e remotos, sinuca... A lista é imensa. Seu blog O Calango Abstrato é uma prova disso. Félix mora em João Pessoa e pratica Zen Budismo há três anos no estilo Soto Zen. Atualmente frequenta o Centro Zen de Campina Grande sob responsabilidade do monge Rui Ikko, aluno de Monja Coen.






Front Page do Blog do Félix


BZ:.Poderia contar como foi sua aproximação com o budismo?



Félix (FL): Na adolescência, visitou-nos na escola, um budista amigo do professor de matemática, ele me falou algo estranho e fiquei cabreiro. A curiosidade voltou depois do divórcio. Resolvi estudar mais a fundo, e gostei.



BZ: Você diz que já foi católico, neo-ateu, ocultista, evangélico e agnóstico. O que te atraiu no Zen Budismo que não encontrou nas demais religiões?




FL:Simplicidade máxima de crença e ação, e o espaço para a dúvida, que acho importante.


BZ:.Por que mudar de religião?

FL: Eu considero uma religião apenas um conjunto de sistemas doutrinários, e nada além disso. Se mudo de religião, significa que adotei sua visão de mundo. Se a visão de mundo se mostra ineficiente ou insuficiente, abandono sem dó.


BZ:.Como sua família ou amigos reagiram quando você se declarou budista ou começou a fazer meditação?

FL: Minha mãe quis "confiscar" o altar improvisado, mas foi algo rápido. Senti a tristeza no olhar de muitos deles depois de um tempo. Hoje parecem ignorar, ainda mais por eu namorar há três anos uma nitirenista. Porém, ainda hoje medito pouco, para não afetar demais o "ritmo da casa".



BZ:.O que tem a dizer aqueles que enfrentam oposição, em casa, a sua pratica?

FL: Persistam, sejam calmos e pacientes e façam o possível para não causar sofrimento. Aprender a tolerar é importante.



BZ: Você faz parte de algum grupo em João Pessoa, qual ? 

FL: Temos um grupo, que no momento, se reúne, de tempos em tempos, para debater o darma, meditar e trocar experiências. Alguns de nós vão ao centro zen de uma cidade do estado periodicamente, e fazemos o possível para sempre melhorar no intuito de ajudar uns aos outros.


BZ:.Já recebeu preceitos como discípulo. Quem é seu professor formal (se tiver)?

FL: Não cheguei a receber nenhum preceito, apenas os estudei, e faço o possível para aplicá-los no dia-a-dia. Logo, não tenho professor formal, mas apenas um monge que de vez em quando recorro em Campina Grande, o Rui Ikko. Pretendo começar a frequentar duas vezes ao ano e, quando a situação financeira melhorar, contribuir.



BZ: Quanto tempo dedica a pratica formal em grupo ou em casa?

FL: Estudo desde os 16 anos, medito há cerca de 5 anos, pratico especificamente o Budismo há três anos, e só vim começar a visitar o Centro Zen este ano (até agora, só uma vez) e estou com um grupo em João Pessoa de reuniões esporádicas por ausência de local fixo.


BZ: A sinuca é zen?



FL: Na verdade, tento trazer a filosofia do Viver o Agora do zen para todas as minhas áreas da vida, seja como sinuqueiro, seja como escritor, como cientista, em casa com os familiares ou qualquer outra área. Por isso, não sei dizer se a sinuca é zen, ou se o zen é uma sinuca. Posso dizer que posso jogar sinuca como um hobby interessante e aplicar nela e entender dela princípios do zen.


BZ:.Quando as pessoas sabem de você ser zen budista elas lhe fazem perguntas sobre o assunto? 

FL: Algumas sim, outras não. As que perguntam, procuram saber como eu consigo praticar o Budismo e não crer em Deus, ou como consigo ser ateu e ser religioso. Os que não perguntam, não forço, apenas explico que pratico o zen e fica por isso mesmo. Nessas conversas não tenho memhum interesse em arrebanhar "fiéis" para o zen-budismo. Prefiro conversar com os amigos numa mesa de bar.


BZ:Você se relaciona com uma pessoa de outra religião. A convivência é pacifica ou vocês tem dificuldades? 


Me relaciono com uma Nitirenista, e a convivência com ela é igual à convivência com qualquer outro ser humano. Às vezes há divergências, às vezes convergências. O que faz com que meus relacionamentos durem é que passo o mínimo de tempo possível debatendo religião. Se ela for motivo de separação, ou de união, é algo que não pertence ao presente, que é a única coisa que me importa.



BZ:.Você parece gostar de ensinar pretende seguir no treinamento para ensinar o zen budismo? 



FL:Eu gosto de ensinar, mas não budismo. Gosto de ensinar língua portuguesa e filologia. O budismo, gosto de praticar. Se minha prática tornar-se um ensino, não vejo problemas nisso, se não, também não vejo problemas.



BZ:.Os idiomas que falamos hoje vieram de uma raiz indo-europeia. Buda falava que língua? Por que se interessa por línguas tão remotas como o nostrático?

FL: Buda falava em páli, uma versão vulgar do sânscrito, descendente do ramo indo-europeu. O nostrático, que eu pesquiso, é uma língua ainda anterior reconstruída por vários linguistas e filólogos, muitos deles conhecedores de línguas orientais. Os idiomas que falamos hoje, porém, derivam de pelo menos 15 a 25 famílias linguísticas, agrupadas em torno de seis a sete grupos basilares. Então, quando Buda começou a espalhar o darma, o nostrático já era uma língua em desuso fazia mais de dez mil anos. Meu interesse por línguas remotas é como pesquisador e porque gosto desse assunto.




BZ: Você faz mestrado em Ciências das Religiões. Que tipo de tema pretende estudar. Tem algo a ver com o Budismo?

FL: Meu mestrado tem mais a ver com linguística e filologia aplicada a conceitos espirituais modernos na pré-história.


BZ:.Os Calangos são pequenos lagartos que quando ameaçados se fazem de mortos. Para se proteger tentam se camuflar com o ambiente. Você já precisou se fazer de morto por causa do que escreve ou do modo de ser?


FL: Até o momento, não. Os calangos também se camuflam muito bem, apesar de eu não ligar muito com as consequências da sinceridade. Digamos que a sinceridade choca, e é impossível viver sem chocar ou ser chocado por algo.


BZ:.O chapéu de couro que você usa é para se mimetizar com o ambiente?

FL: O chapéu de couro deixou de ser usado faz tempo aqui, mas alguns ainda o utilizam em meios intelectuais. No meu dia-a-dia, opto pelo uso da boina, que me destaca apenas o suficiente pra criar uma identidade dentro da sociedade.


BZ:.Você também é um calango que esquenta e esfria (pecilotérmico) de acordo com o ambiente?

FL: Faço o possível. Já tive situações em que foi difícil permanecer de sangue-frio, e outros em que tive sangue-frio sem perceber. Ainda estou trabalhando nisso, e espero conseguir antes de morrer (risos).


Postado por Jeane Dal Bo






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