Não é de hoje que as pessoas se comprometem com inúmeras tarefas ao mesmo tempo e acabam não fazendo várias delas ou apelando para fazer mal feito.
O Zen Budismo aponta, a centenas de anos, que a "atenção plena" é uma maneira de superar todos os transtornos que nossas vidas nos trazem.
De fato, não dá pra ser multitarefa.
Muita gente já descobriu isso a duras penas.
Conheça pessoas que conseguiram se concentrar em uma atividade por vez, diminuíram a angústia e ganharam tempo pra curtir a vida
RELÓGIO DE PONTO: O analista de sistemas Fabiano Morais cansou de se distrair na frente do computador. Criou um gestor de projetos online e hoje passa mais tempo com a família
Crédito: Anderson Schneider
Você começa a escrever um e-mail de trabalho, mas é interrompido pelo toque do celular. Atende à ligação e, quando desliga, vê avisos de mensagens na telinha. Abre uma delas mas, antes mesmo de responder, algum colega chama você para terminar aquela conversa que começaram de manhã... E assim você vai, pulando de uma tarefa para outra. Ao final do dia, o desconforto de ter começado muitas coisas, concluído algumas e produzido bem menos do que gostaria. Vem a angústia de que sobrou muita coisa para o dia seguinte — e pouco tempo para aproveitar a vida.
Esse comportamento, comum no multitasking, estilo dos que desempenham várias tarefas ao mesmo tempo, começa aos poucos a ceder espaço a um estilo oposto: o monotasking. Ou seja: concentrar em uma coisa de cada vez com a intenção de fazer tudo bem feito, de preferência passando algum tempo longe das distrações da internet. “É uma contra-tendência, uma antítese ao excesso de informação e estímulos que vivemos”, diz Linda Stone. Para essa ex-executiva da Apple e Microsoft e uma das maiores estudiosas de atenção humana hoje, estamos deixando a era da Atenção Parcial Contínua (CPA, em inglês), em que prestamos um pouco de atenção a várias coisas o tempo inteiro, para entrar na era do unifoco, em que de fato nos concentraremos nos que estamos fazendo no momento. “Tudo que é escasso se torna valioso. A nova escassez é ter tempo para pensar e se concentrar”, afirma Henry Manson, chefe de pesquisa da agência de tendências de consumo Trendwatching, uma das maiores do mundo.
“Vivemos uma aceleração do tempo: tudo tem que ser rápido, imediato. Mas não se pode ter inovação sem períodos de reflexão e preguiça”, diz a filósofa Olgária Matos, professora da USP.
O analista de sistemas Fabiano Morais, 40 anos, de Brasília, é um representante dessa tendência. Fabiano é obrigado a passar horas e horas à frente do computador por conta de seu trabalho — ele desenvolve sistemas para a web. E entende bem o significado da palavra dispersão: “É aquela fissura de saber se alguém te mencionou no Twitter ou fez um post novo no Facebook”. Como empreendia seus próprios projetos e trabalhava de casa, o empresário não sabia mais o que era horário de expediente, final de semana ou feriados. Mas reagiu a essa falta de limites, e criou espaço para folgas e diversão. “Quis comandar o ritmo da minha vida”, diz. Um exemplo: Fabiano passou a fechar o e-mail e sites tentadores enquanto executa uma tarefa. Virou adepto da yoga e de meditação para aumentar seu foco no presente.
Quando percebeu que os resultados eram positivos, acabou criando um projeto próprio em torno do tema: o Moov, um serviço na web que permite compartilhar listas de tarefas, contatos e histórico de relacionamento entre uma equipe. Fabiano coordena ainda 15 pessoas em uma empresa de tecnologia da informação e aplica em grupo os benefícios do que aprendeu. “As noites e finais de semana, agora, se transformaram em tempo livre ao lado da família.”
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