Sair de trás dos hábitos
A razão pelo qual estudamos e praticamos o buddhadharma é aprender como trabalhar com nossas mentes. Precisamos trabalhar com nossas mentes particularmente durante situações difíceis, quando nossa mente não está amigável, quando ela nos assusta a ponto de nem querermos se relacionar com ela.
O Dharma nos ensina como olhar nossa mente e nos familiarizarmos com seu funcionamento. Aprendemos quais são seus padrões, como ela escapa do controle, ameaçando a nós e os outros. Em essência, o Dharma cultiva nossa inteligência. Ele permite que uma pessoa inteligente saia de trás dos hábitos, impulsos e reações que normalmente dominam a mente.
Então, quando chega o momento em que as forças da nossa mente vão em direção ao descontrole, não nos sentimos como uma pena ao vento.
~ Dzigar Kongtrül Rinpoche (Índia, 1964 ~) em “Light Comes Through”, cap. 1
Para derrotar hábitos e impulsos
O problema essencial, que um momento de reflexão sobre nossa experiência vai confirmar, não é que impurezas ocorrem dentro de nossas mentes, mas que em 9 de cada 10 vezes não estamos conscientes que elas estão ali.
Ou melhor, na hora que elas irrompem em nossa consciência, normalmente adquiriram tal dimensão e força que no andar normal da situação somos impotentes para evitar suas consequências.
A explosão súbita de raiva destrutiva, o impulso de luxúria, a palavra cruel ou arrogante que pode ter consequências de alterar vidas, devem todas ter saído de algum lugar: talvez muito tempo atrás, em uma momentânea faísca de impaciência ou desejo que, se tivesse sido trabalhada na hora, poderia ser facilmente neutralizada ou dissipada.
Tudo bem, mas como precisamente alguém se torna tão perfeitamente auto-confiante que nenhum impulso da mente, não importa quão pequeno, consiga passar despercebido?
Não há soluções mágicas. A técnica prescrita por Shantideva é uma vigilância constante e incansável – um alerta contínuo sobre o que se passa em nosso fórum interior. Ele diz que devemos proteger nossas mentes com o mesmo cuidado que alguém protegeria um braço ferido ao andar em meio a uma multidão desordenada; [...]
Shantideva recomenda que tão logo sentimos vontade de fazer qualquer coisa — falar, ou mesmo andar pela sala — devemos iniciar o hábito do auto-exame. O menor impulso à negatividade deve ser saudado com uma paralisação total do sistema:
Então, você deve permanecer como um tronco de madeira
(Bodhicharyavatara, cap. 5, 50-53)
Nenhum pensamento deve ter a permissão de virar ação sem ser examinado. Devido ao grau de auto-consciência necessário, não é surpresa que Shantideva se refira às minúcias do comportamento do dia-a-dia — todas as pequenas coisas que habitualmente deixamos passar, dizendo para nós mesmo que elas são muito pequenas para nos preocuparmos.
Nesta prática, na verdade, são exatamente os impulsos menores – geralmente impulsos subliminares e padrões de comportamento – que exigem a maior atenção.
Grupo de Tradução Padmakara ~ Na introdução do livro “The Way of The Bodhisattva”, o Bodhicharyavatara, deShantideva
Como construímos hábitos saudáveis para meditar?
Quando começamos a praticar, concentramo-nos em aprender a distinção entre virtude e desvirtude. Ao nos conscientizarmos do predomínio das desvirtudes em nossa mente, passamos a evitar a negatividade.
A concentração contínua na virtude nos permite desenvolver hábitos saudáveis em nossas ações, fala e pensamentos. Por fim, quando conseguimos descansar sem esforço no reconhecimento da nossa verdadeira natureza, isso se torna a nossa prática principal.
Nesse contexto, percebemos que os fenômenos surgem como o arco-íris ou as nuvens, ou como o Sol e a Lua que nascem e se põem na vastidão do céu sem que este jamais se modifique. Descansamos com clareza e ciência na natureza da mente, que é como o céu.
Chagdud Tulku Rinpoche (Tibete, 1930 – Brasil, 2002)
“Para abrir o coração“, II | 17
Temos hábitos ruins ja "instalados"... Como construímos hábitos saudáveis para meditar?
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