CONVERSAS ANÔNIMAS: Meu amigo acredita que “nascer pobre é perpetuar a miséria”!!!

 




Tchê… vamos por partes…

O que tu descreve sobre seu amigo sugere um conjunto complexo de crenças, medos e padrões emocionais que parecem se repetir e auto justificar…

Tem estruturas que alguns teóricos chamam de “crenças” e “esquemas” e na descrição sobre o seu amigo, alguns esquemas parecem bastante evidentes:

Lendo seu relato ele parece acreditar que não será genuinamente amado ou compreendido por ninguém, a menos que tenha algo “valioso” para oferecer (dinheiro, status).

Isso pode vir de um aprendizado na sua infância onde as necessidades emocionais da criança que ele foi não foram atendidas ou foram “condicionadas” a desempenho ou sucesso.

Sabe aquela família que só demonstra atenção ou carinho se a criança fizer “X” ou ”Y”? Então… a família pode ter um discurso de gostar de todos igual, mas o pai ou a mãe (senão os dois) só fala bem do parente que tem dinheiro, ou do artista, ou do político que exalta a riqueza… E nunca deu qualquer atenção para o carinho espontâneo ou as necessidades da criança!!!

Então… em um ambiente domiciliar assim a criança “percebe” que só se ela tiver dinheiro ou bens é que ela será percebida como importante pelos seus pais…

E a criança SEMPRE quer a atenção dos pais.

Ao mesmo tempo ele se educa a crer que o medo de estar “à mercê” de agradar alguém para manter um relacionamento é uma forma de ameaça à sua autonomia!

Ele pode ter aprendido que se “relacionar” significa inescapavelmente abrir mão de si mesmo ou de ser explorado.

Sabe aquela mãe que vive falando que ela se sacrifica pelos outros e não recebe nada em troca.... bem... um dia a criança acaba acreditando no que a mãe fala!

Afinal, se ele aprendeu que se só se “tendo coisas” e “tendo dinheiro” se tem atenção de quem se ama… então TODOS que se aproximam romanticamente são pessoas que também só vão querer dinheiro e bens dele…

Da mesma maneira, ele foi educado a crer que “nascer pobre é perpetuar a miséria”

Isso também é parte do Esquema! Um esquema de fracasso, onde ELE SE VÊ como inferior ou destinado ao insucesso. Isso, certamente, deve gerar vergonha, raiva e uma necessidade obsessiva de provar valor por meio de conquistas materiais.

A gente percebe isso no medo de ser traído ou trocado por alguém “melhor”!

Ele teme isso pois como as pessoas são sempre focadas nas coisas e não no afeto… qualquer um que trouxer mais oportunidades de ganho para a parceira(o) tem capacidade de esvaziar o quão interessante ele poderia ser e essa crença alimenta uma expectativa de que os outros sempre vão feri-lo ou abandoná-lo.

As pesquisas em “Teoria do Apego” (John Bowlby, Mary Ainsworth) explica como os padrões de vínculo afetivo na infância moldam os relacionamentos adultos. Seu amigo parece apresentar características de:

APEGO EVITATIVO
- Evita relacionamentos íntimos por medo de perder controle ou ser vulnerável.
- Prefere relações superficiais ou transacionais (como pagar por sexo) para manter distância emocional.
- Vê o amor como algo que exige poder, não como troca afetiva.

APEGO ANSIOSO (em segundo plano)
- Apesar da postura evitativa, ele demonstra desejo por conexão (“vontade de namorar”), mas teme rejeição ou não ser suficiente.
- Isso gera ambivalência: quer se conectar, mas teme se machucar.

Embora tudo que escrevi NÃO SEJA DIAGNÓSTICO, seu relato sugere que ele pode estar lidando com ideias rígidas sobre classe social e valor humano: que podem indicar esquemas de SUPERCOMPENSAÇÃO POR SENTIMENTOS DE INFERIORIDADE.

"QUÍMICA ESQUEMÁTICA" ou porque frasezinha de efeito de coach não muda seu "dedo podre" pra namoro!


"QUÍMICA ESQUEMÁTICA"

Pois é, amigo... então, amiga... pode encher o perfil com "vibrações positivas" e "a lei da atração", mas se seu radar amoroso só capta sinais de gente emocionalmente indisponível ou de alguém que te trata como a segunda opção, saiba que a culpa não é do "dedo podre" – mas da sua Química Esquemática.

Esse não é um conceito mágico ou construído em uma revelação divina, mas um termo cunhado na psicologia para explicar aquela atração quase magnética (no seus termos) e, vamos combinar, por vezes... bem idiota, que sentimos por parceiros que, magicamente, reativam os mesmos padrões emocionais problemáticos que a gente desenvolveu na infância.

Em outras palavras: seu "tipo físico", perfil ideal... conjunção astral favorita, na verdade, é um "tipo tóxico" que seu cérebro, num ato de autossabotagem doméstica, identifica como "LAR".

É como se você estivesse num date e, inconscientemente, pensasse: "Ah, essa pessoa me faz sentir aquela insegurança gostosa que minha mãe me dava!

Que delícia de red flag, vou me apegar!".

Didaticamente falando, é a sua mente confundindo o desconforto familiar do esquema disfuncional com paixão.

Em outras palavras, não adianta trocar a frase de efeito do Instagram, é preciso trocar o padrão emocional que te prende nesse looping. 

O termo "Química Esquemática" é um conceito utilizado no campo da psicologia, especificamente na Terapia do Esquema (abordagem cujo o principal autor e desenvolvedor é o psicólogo norte-americano Jeffrey Young, e que é derivada da Terapia Cognitivo-Comportamental que agrega conceitos e métodos de outras abordagens, como a Teoria do Apego, a Gestalt e elementos da Psicanálise, focando-se em padrões emocionais e cognitivos de longa duração - Esquemas Iniciais Desadaptativos - e no tratamento de transtornos de personalidade e problemas crônicos complexos), e não um termo da química propriamente dita. 


Refere-se ao fenômeno de atração por parceiros ou situações que reativam padrões emocionais e comportamentais (esquemas) desenvolvidos na infância, mesmo que sejam prejudiciais ou disfuncionais. 


Os Esquemas Iniciais Desadaptativos (EIDs) são definidos como padrões emocionais e cognitivos de longa duração (duradouros e repetitivos), desenvolvidos na infância ou adolescência. Eles representam temas centrais e disfuncionais sobre si mesmo e sobre as relações interpessoais, formados como adaptação ou reação a experiências iniciais com o ambiente. 


Esses esquemas surgem quando as Necessidades Emocionais Básicas da criança (como vínculo seguro, autonomia, expressão de necessidades e limites realistas) não foram atendidas de forma adequada no seu contexto bio-psico-social (a interação entre biologia, temperamento e o ambiente familiar/social).


Embora tenham se originado como estratégias de sobrevivência psicológica, na vida adulta, esses padrões se tornam rígidos e desadaptativos, atuando como "filtros" ou "lentes" que distorcem a realidade. Eles levam a pessoa a sentir, pensar e se comportar de maneiras que involuntariamente perpetuam o sofrimento e reativam as feridas originais, mesmo em situações seguras e saudáveis.

Como funciona

  • Atração pelo "conhecido": As pessoas tendem a se sentir atraídas por situações relacionais que, de alguma forma, lhes são familiares, pois ativam as mesmas dores emocionais já vivenciadas, como abandono, privação emocional ou desconfiança.

  • Repetição de padrões: Esse processo, muitas vezes inconsciente, leva à repetição de ciclos de relacionamentos problemáticos, o que popularmente é chamado de "dedo podre".

  • Busca por validação ou correção: A pessoa pode, inconscientemente, buscar parceiros que a façam reviver essas dores na tentativa de, finalmente, conseguir um resultado diferente ou uma validação que não teve na infância. 


Então, a "química esquemática" explica por que certas pessoas se sentem intensamente atraídas por relações que, no longo prazo, se mostram destrutivas ou insatisfatórias. O objetivo da terapia é ajudar o indivíduo a reconhecer esses padrões e fazer escolhas mais saudáveis. 


Abaixo estão referências bibliográficas e sugestões de vídeos, com foco em Jeffrey Young e autores brasileiros que abordam o tema.

Livros de Referência


Os principais livros do autor e de colaboradores traduzidos para o português incluem:

  • Young, Jeffrey E. (2008). Terapia do Esquema: Guia de Técnicas Cognitivo-Comportamentais Inovadoras. Porto Alegre: Artmed.

    • Este é o livro técnico fundamental para profissionais que desejam aplicar a Terapia do Esquema na prática clínica.


  • Young, Jeffrey E.; Klosko, Janet S. (2019). Reinvente Sua Vida: Como Superar Padrões Negativos e Mudar Sua Vida Usando a Terapia do Esquema. Porto Alegre: Artmed.

    • Este livro é mais acessível ao público geral (autoajuda com base clínica), focando no autoconhecimento e na identificação dos próprios esquemas ("armadilhas da mente" ou "armadilhas da vida").


  • Rafaeli, Eshkol; Bernstein, David P.; Young, Jeffrey. (2019). Terapia do Esquema: Livro de Exercícios. Porto Alegre: Artmed (ou outra editora, a depender da edição).

    • Um guia prático com exercícios para auxiliar na identificação e manejo dos esquemas. 




CONVERSAS ANÔNIMAS: Recorrentemente eu tenho a sensação de que JÁ ASSISTI OU LI ISSO ANTES!!!

 


A psicologia estuda esses eventos a décadas…

Mesmo assim NÃO TEM 100% DE CONSENSO mas o que você descreve PODE SER o tipo de desenvolvimento particular que você constituiu para “APREENDER” A REALIDADE.

Na neurologia, é chamado de “processamento bottom-up” à forma como o cérebro recebe e interpreta informações sensoriais brutas vindas dos sentidos — como visão, audição, tato e olfato.

Esses estímulos sobem até áreas superiores do cérebro, onde são organizados, arquivados e, depois, reconhecidos.

Então, Bottom-Up é a base comum da percepção: primeiro sentimos, depois compreendemos.

Mas não é a única ferramenta que temos… Já o “processamento top-down” acontece quando, depois de algum estímulo e o devido ambiente propício, o cérebro usa as memórias para estruturar ROTEIROS, que as pessoas comuns chamam de “expectativas” e “conhecimento prévio” para interpretar ou até antecipar o que está sendo percebido. Todo ser humano, desde a pré-história, se torna capaz disso.

Nosso cérebro então é capaz de absorver as informações dos sentidos e de usar esse aprendizado para antecipar o futuro.

Essas ferramentas moldam a forma como vemos o mundo, LITERALMENTE preenchendo lacunas e guiando nossa atenção.


Esses dois fluxos trabalham juntos para formar o entendimento.

O que você descreve aponta que os seus sentidos fornecem os dados, mas OS TEUS “ROTEIROS” MENTAIS — como experiências passadas, crenças e PADRÕES APRENDIDOS — ajudam a sua consciência a dar sentido e significado para a informação ANTES dela precisar ficar mais “completa”. Por exemplo, ao ver uma sombra em formato familiar, o cérebro pode rapidamente concluir que é uma pessoa, mesmo antes de confirmar pelos detalhes visuais.


MAS E VOCÊ???


Imagine que a sua mente, depois de uma vida assistindo a realidade e vivendo a vida, "criou uma pasta secreta" dentro da sua cabeça cheia de roteiros prontos.


São estruturas de histórias que se repetiram na sua vida ou que você testemunhou (filmes e leituras também serviram de fonte para isso:


O herói que sai em uma jornada…


O casal que briga para no final se reconciliar…


O detetive que está perto de se aposentar e aceita um último caso…


O cinema chama de clichê!


Normalmente as pessoas usam menos essas ferramentas... e isso é útil para se entreter com a história.


Quando VOCÊ começa a assistir a um filme novo, lê um livro novo... sua cabeça não está em branco! Pelo contrário, ela já puxa na hora o 'roteiro' mais parecido com aquilo que está vendo.


E liga os pontos faltantes!


Para sua consciência é como se você já soubesse os passos da dança antes mesmo de a música tocar. Por isso, você antecipa o que vai acontecer: seu cérebro não está adivinhando, ele está apenas seguindo o 'mapa' POSSÍVEL da história que ele já conhece de cor.


Quanto mais lógica você enxerga no mundo, mais rápido esses roteiros se encaixam e mais nítida fica a sensação de que você já sabe o final.


https://www.facebook.com/reel/1328519848909092

Escutar, Naturalizar, Acolher e Agradecer a confiança!

Escutar
Naturalizar
Acolher, 
Agradecer a confiança!

Passou a ser meu mantra na psicoterapia!

Este mantra não é uma sequência aleatória de palavras, mas um ciclo contínuo e interdependente de atitudes.

Escutar significa ir mais longe que só ouvir!

É a base de tudo. Não é sobre ouvir o som das palavras, mas escutar com todo o meu ser – a entonação da vós, as pausas, as emoções subjacentes, o corpo. É a escuta ativa e generosa.

É estar completamente focado no cliente, sem julgamento, sem preparar a resposta enquanto ele fala.

É escutar para compreender, não para responder.

É da escuta profunda que emergem as percepções para "naturalizar", a sensibilidade para "acolher" e a genuína vontade de "permitir confiar"!

Naturalizar é o antídoto para a vergonha e o isolamento meu e do outro!

Muitos clientes chegam à terapia acreditando que seus pensamentos, sentimentos ou experiências são anormais, monstruosos ou são únicos em sua "loucura".

Na Prática o que o outro sente é uma reação humana possível das muitas tantas que são compreensíveis diante do que cada um viveu.

Você não é quebrado, você não é estranho ou errado por se sentir assim!

A experiência interna de cada um merece ser entendida sem julgamento, reduzindo imediatamente a carga de culpa e solidão.

É muito natural sentir raiva, medo, desespero... quando nossos limites são repetidamente violados.

É sinal de que algo importante para nós foi ferido.

Isso já é "Acolher"!

Construir uma relação que seja um porto seguro emocional.

É a ação que segue a compreensão.

Oferecer um espaço de total aceitação incondicional.

Receber tudo o que emerge – o choro, o silêncio, a raiva, o medo – com presença, calma e respeito.

"Todo o seu ser é bem-vindo aqui. Você não precisa se esconder ou se envergonhar."

Por fim, "Agradecer a Confiança"!

Este é um elemento crucial de reparo relacional.

É um reconhecimento explícito da vulnerabilidade e da coragem do cliente.


Reconhecer o valor e o privilégio de ser depositário da história e das emoções daquela pessoa.

Isso fortalece a nossa aliança terapêutica, mostrando que o terapeuta não toma essa confiança como garantida.

É um ato de humildade e gratidão que empodera o cliente.


Juntas, essas ações criam um ciclo contínuo e fortalecedor:

O terapeuta escuta profundamente.

O que é escutado é naturalizado, retirando o fardo da patologização e da vergonha.

A experiência naturalizada é acolhida em um espaço seguro e sem julgamentos.

A coragem de se abrir nesse espaço é honrada quando o terapeuta agradece a confiança depositada nele.

Esse agradecimento reforça a segurança, encorajando o cliente a se abrir ainda mais, e o terapeuta, por sua vez, escuta com redobrada atenção...

Este mantra é meu guia, não apenas para psicoterapia, mas para qualquer um que deseje se relacionar com o sofrimento alheio (e até consigo mesmo) de uma maneira mais sábia, compassiva e eficaz.

É sobre como estar com outro ser humano em seu momento de maior vulnerabilidade.







De onde vieram, então, os conceitos por trás do texto?

 

Primero, da conversa que tive em supervisão com a professora Greice Carvalho. Obrigado professora!

Seguindo: 

"Escutar" (Escuta Ativa): É um pilar central da abordagem Centrada na Pessoa, de Carl Rogers. Para ele, a escuta empática e incondicional é o principal instrumento de cura.

"Acolher" (Aceitação Incondicional): Outro conceito rogeriano fundamental. É a atitude de receber o cliente sem julgamentos, criando um clima de segurança psicológica.

"Naturalizar" (Validação e Normalização): É um conceito muito forte em abordagens como a Terapia Dialético-Comportamental (DBT) e também na Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT). A ideia é de que muitos sofrimentos são respostas normais a contextos anormais, e validar essa experiência reduz o sofrimento secundário (a culpa por se sentir mal).

"Agradecer a Confiança" (Aliança Terapêutica e Reparo Relacional): A "Aliança Terapêutica" é considerada o fator de mudança mais importante na terapia, independente da abordagem, um conceito estudado por diversos pesquisadores como Jeremy Safran e J. C. Muran. Agradecer a confiança é uma forma explícita de fortalecer e cuidar dessa aliança. Também remete a ideias de ética e reciprocidade no cuidado, presentes em pensadores como Martin Buber (relação Eu-Tu).

Em resumo, a ideia central do texto é minha, no sentido de como estruturei e redigi a explicação. Mas os princípios psicológicos que dão sentido a ele são bem conhecidos e estudados há décadas no campo da psicoterapia e das relações humanas.

CONVERSAS ANÔNIMAS: "É saudável ou é insalubre a pessoa que pensa em engajar na carreira de psicologia ou psicanálise motivado não apenas pelo "auto sustento", mas pela necessidade PESSOAL de se tratar e se entender?

 

Caro Membro Anônimo, você me fez lembrar um conto que a uma grande professora me contou no exercício do chá, em Porto Alegre a uns 20 anos... A Parábola da Semente de Mostarda.

Fala de "Kisa Gotami" que era uma jovem mulher que pertencia a uma família humilde e que se casou com um bom homem com quem teve um único filho, a quem amava profundamente. Quando a criança ainda era pequena, adoeceu gravemente e morreu.

Enlouquecida pela dor, Kisa Gotami se recusava a aceitar a morte do filho e fugiu de casa carregando o corpo do menino nos braços, ela percorreu a sua vila, suplicando a todos que encontrasse por um remédio que pudesse trazê-lo de volta à vida.



As pessoas a consideravam louca, mas um homem, compadecido com toda aquela dor, sugeriu que ela fosse até o homem que as pessoas chamavam de "Buda", que quer dizer: "Aquele que esta acordado", e que estava meditando em um bosque próximo. As pessoas diziam que ele se tornara incrivelmente sábio e poderoso... Que até realizava milagres!

Ela correu na direção em que falavam que ele estava e chegando até o Buda, ela se ajoelhou e implorou: "Ó Iluminado, por favor, dê-me um remédio que possa curar e trazer de volta à vida o meu único filho."

O Buda, com grande compaixão, ouviu o seu desespero e concordou em ajudá-la. Ele disse: "Deixe seu filho aqui comigo e vá até a cidade e traga-me um punhado de sementes de mostarda. No entanto, há uma condição: essas sementes devem vir de uma casa onde nunca tenha ocorrido uma morte, onde nenhum ente querido tenha sido perdido. Peça as sementes e pergunte sobre essa condição! Quando obtiver as sementes de um lugar assim me traga!"

Cheia de esperança, Kisa Gotami saiu imediatamente. Ela bateu na porta da primeira casa e pediu algumas sementes de mostarda. As pessoas buscavam as sementes de bom grado, quando ela perguntava sobre a condição para o ato mágico funcionar: "Esta casa já foi tocada pela morte? Já perderam alguém aqui?", a resposta era sempre a mesma: "Sim, já perdemos um pai", "Há alguns anos perdemos nossa filha", "Meu avô faleceu aqui no inverno passado", "Este ano mesmo perdi alguém que eu amava... e isso ainda dói..." Assim por diante.

Todos a quem ela perguntava traziam suas histórias de dor e perdas antigas e vivas ou recentes e muito sofridas, e a medida que ela ouvia sua histórias aos poucos foi entendendo o poder da dor e da perda de cada família, de cada pessoa... e se tomando d e compaixão por cada história e cada pessoa com quem falava.

Casa após casa, família após família, as histórias se repetiam e ela percebia com um espelho da sua própria dor. Ela não conseguia encontrar um único lar que estivesse livre do sofrimento e da perda. Vila por Vila, até a percorrer toda a cidade, ela finalmente compreendeu a profunda verdade que o Buda queria lhe mostrar.

Exausta e transformada, ela retornou ao Buda sem as sementes. A sua dor egoísta deu lugar a uma compreensão universal. Ela disse ao Buda: "É impossível encontrar uma casa assim. A morte é um destino comum a todos. O sofrimento é parte da vida."

O Buda confirmou: "Naquele momento você pensava que apenas você sofria, mas a lei da vida é a mesma para todos. Tudo o que nasce está sujeito à morte (anicca - impermanência). O sofrimento (dukkha) é inerente à existência. Agora vamos dar os ritos ao seu amado filho!"

Kisa Gotami então cremou o filho, jogou as cinzas no rio e voltou para onde Buda falava para jovens aprendizes, pedindo para ser aceita como sua discípula. Ela se dedicou profundamente à prática espiritual e, diz a tradição, eventualmente atingiu a própria "iluminação".

O Buda não curou o menino magicamente. Em vez disso, ele guiou Kisa Gotami para que ela mesma visse e aceitasse a verdade da vida, curando assim a sua mente do sofrimento desnecessário causado pela negação e pelo apego.





Dito isso:




A escolha de estudar psicologia ou psicanálise a partir de um lugar de sofrimento pessoal e necessidade de compreensão não é incomum — na verdade, muitos profissionais entram na área por esse caminho.



Salvo raras exceções, os primeiros psicanalistas era todos analisandos de Freud. E a primeira forma de "formação" psicanalítica tratava de ter como regra a pessoa se por como paciente em uma terapia formal…

Daí a regra da “Análise Didática" (ou terapia pessoal obrigatória) não ser um capricho de Freud; mas a condição “SINE QUA NON” para a prática. Ele reconhecia que o instrumento principal de trabalho do analista não é uma teoria, um teste ou uma técnica, mas a própria mente do analista.

Você fala: ““A situação: pessoa que pensa em engajar na carreira de psicologia ou psicanálise motivado não apenas pelo auto sustento, mas sim pela curiosidade e necessidade.””

1º: Se há uma curiosidade genuína no aprendizado ele, para ser saudável, precisa ser distanciado da simples necessidade de segurança e controle, que é uma armadilha potencial em quem não trata da própria idiossincrasia.

Percebe?

A busca por entender a natureza da mente humana é, em si, próxima de uma busca espiritual. O estudo pode ser uma forma de "dharma", um ensinamento sobre a condição humana. Se a pessoa conseguir usar o conhecimento para desenvolver compaixão por si e pelos outros, entendendo a universalidade do sofrimento (como Kisa Gotami), o caminho será benéfico. A psicanálise veria essa escolha potencial como um exemplo clássico de sublimação.

O risco é o da intelectualização como forma de apego.

MAS ESTE RISCO EXISTE SE VOCÊ NÃO BUSCAR A EDUCAÇÃO E A FORMAÇÃO TAMBÉM!

Uma pessoa pode — e frequentemente se encontram pessoas que fazem isso por aí — “racionalizar” e responder de forma inadequada aos outros e a vida sem nunca ter estudado psicologia.

A racionalização não é um conceito inventado pela psicologia; é A DESCRIÇÃO de um mecanismo de defesa natural da mente humana, identificado e nomeado pela psicanálise. A psicologia apenas descreve, estuda e ajuda a identificar esse processo, que já acontece com qualquer um.

O Zen alerta contra confundir o mapa (a teoria) com o território (a experiência real).

Se a pessoa estudar apenas para construir uma fortaleza intelectual que a separe da ansiedade e da dor, sem de fato se engajar com sua própria experiência, estará se afastando da iluminação. E por tabela o mesmo vale para a psicologia. É como "beber água sobre a sede de outro". Nisso a pessoa vive como uma forma de evitar olhar para o próprio sofrimento.
2º A descrição aponta para a percepção de "sempre se sentir diferente"; De Isolamento Social ou dificuldade de encontrar pessoas com quem se identifique e possivelmente de ter construído uma ferramenta emocional onde tem necessidade de controle para se sentir confiante.

Nisso a escolha pela psicologia pode ser um estilo de coping saudável. É uma maneira de a pessoa usar sua hipervigilância e necessidade de entender (um "modo esquema") para se reconectar com os outros, transformando sua dor em um propósito. É uma forma de buscar "reparentagem" pessoal, dando a si mesma, através do estudo, o entendimento e a segurança que não teve.

Coping saudável (ou enfrentamento saudável) refere-se ao conjunto de estratégias conscientes e adaptativas que uma pessoa utiliza para gerir de forma eficaz situações de estresse, conflito, dor emocional ou adversidade.

Então o perigo é que a escolha seja uma “compensação rígida”. Ou seja, em vez de curar o sentimento de incompetência ou isolamento, a pessoa se torna "supercompetente" teoricamente para mascarar a ferida, sem nunca realmente se curar.

Então você pergunta: “E então vocês diriam que isso é saudável ou não?”

A decisão de sair da reclusão e "enfrentar os desafios" para "entender as pessoas" é um movimento incrivelmente corajoso e saudável em direção a um apego mais seguro.

É a tentativa de mapear o território humano para navegá-lo com menos medo.


A carreira pode ser um "porto seguro" a partir do qual ela pode se conectar com os outros de forma estruturada e contida, o que pode ser um primeiro passo reparador.

O risco é que a profissão (QUALQUER PROFISSÃO QUE SE ESCOLHA) se torne uma forma de cuidar dos outros para evitar ter que ser cuidado.

A pessoa pode se colocar sempre no papel do ouvinte, do especialista, do forte, evitando assim a vulnerabilidade de ser a que precisa de ajuda.
Isso pode reforçar o sentimento de isolamento ("ninguém me entende como eu entendo os outros") e levar a uma solidão profunda.

Então pode ser uma tentativa legítima e admirável de cura e adaptação.
A pessoa não estaria fugindo; ela estaria se engajando ativamente com a fonte de sua ansiedade de uma maneira produtiva.

A chave para que isso permaneça saudável está na intenção e no processo!

Esta pessoa precisa ser seu próprio primeiro caso de estudo.

Ela deve engajar em terapia pessoal (seja psicanalítica, ou não, mas por via de processo formal) paralelamente aos seus estudos.

Isso transforma o risco da intelectualização em uma oportunidade de integração.

O que você acha?





CONVERSAS ANÔNIMAS: Meu amigo acredita que “nascer pobre é perpetuar a miséria”!!!

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