Pular para o conteúdo principal

Ciência da felicidade...

Esta é uma entrevista dada a Revista Pisque Ciência e Saúde Especial Nº8, pela Professora Doutora Norte americana Sonja Lyubomirsky. Ela é professora de psicologia da Universidade da Califórnia. Graduada pela Universidade de Harvard e doutora pela Universidade de Stanford, Lyubomirsky recebeu muitos prêmios por suas pesquisas, como o 2002 Templeton Positive Psychology e um prêmio do National Institute of Mental Health.



PSIQUE: Tenho escutado muitas pessoas (até mesmo psicoterapeutas) dizerem que felicidade não existe. O que você diria a essas pessoas?

Lyubomirsky: Que opinião mais estranha! Cientistas têm questiona­do pessoas no mundo todo: cente­nas de milhares de pessoas: acerca de sua felicidade e há muito mais pessoas que dizem ser felizes do que aquelas que dizem o contrário. Para mim, isso significa que feli­cidade, de fato, existe. Certamente que pessoas de diferentes culturas vêem a felicidade de maneira diferente, mas se uma pessoa se considera feliz, eu tenho que acreditar nela. A felicidade é subjetiva e apenas eu e você saberemos se somos verdadeiramente felizes. Ninguém mais poderá dizê-lo por nós.


PSIQUE: No Brasil, muitas pessoas ainda vêem Psico/ogia Positiva como uma espécie de auto-ajuda. Isso também acontece nos EUA?

Lyubomirsky: Sim. Uma das razões pelas quais escrevi meu livro (A ciência da felicidade, editora Campus, 2008) foi chamar a tenção para o fato de que psicólogos são cientistas, exatamente como os biólogos e os físicos também o são, de forma que nós usamos o método científico para responder questões sobre o pensamento e o comporta­mento humanos. Nós, pesquisadores, temos desenvolvido instrumentos para medir feli­cidade, conduzindo estudos e experimentos sistemáticos. Em meu laboratório nós convidamos pessoas para participarem de experimentos randomizados e controlados. Algumas pessoas são aleatoriamente designadas praticar atos de bondade de uma determinada maneira; outras são escolhidas aleatoriamente para praticar uma determina estratégia de felicidade e outras ainda, são destacadas para o grupo de controle. Apátir daí nós acompanhamos esses indivíduos e observamos como (e se) seus níveis felicidade (bem como outras variáveis) são modificados ao longo do tempo.


PSIQUE: O que dizem as últimas pesquisas sobre felicidade ?

Lyubomirsky: Puxa, essa questão é muito ampla! Meu livro inteiro fala sobre isso!


PSIQUE: Se a felicidade é influenciada por fatores genéticos e pelas circunstâncias da vida, à que ponto é possível aumentarmos nossos nível de felicidade?

Lyubomirsky: A premissa básica do meu livro (baseado nas pesquisas até agora realizadas) é que a despeito do fato de que nossa felicidade seja geneticamente determinada e de que nossas circunstâncias ou situações de vida exerçam uma influência mínima sobre o quanto somos felizes, existe ainda uma boa parte da felicidade (cerca de 40%) que podemos mudar. Meu livro fala sobre como podemos utilizar esses 40%. Em linhas gerais podemos fazer isso mudando nossa maneira de pensar e de agir.


PSIQUE: E muito gratificante para um pesquisador trabalhar com um tema de pesquisa que desperta tanto interesse na maioria das pessoas. Entretanto, é justamente por causa deste interesse, que cada ser humano parece ter a sua "definição pes­soal de felicidade". Isso não é um problema fará o pesquisador que, como você, publica um livro de divulgação científica?

Lyubomirsky — Sim, isso poderia ser pro­blemático, contudo também é difícil me­dir a distância da Terra até outra galáxia, mas ainda assim os cientistas encontram meios de fazê-lo. A definição de felicidade é avalida a partir de 2 componentes. O primeiro é a ex­periência de frequentes emoções positivas, tais como: alegria, contentamento, serenidade, entu­siasmo e curiosidade. O segundo seria a sensa­ção de que se tem uma vida boa e que se está satisfeito em relação a ela e ao progresso que se tem feito em direção à conquista de seus objetivos. Depois então, os pesquisadores avaliam esses componentes da felicidade perguntando diretamente às pessoas acerca deles, por meio de perguntas específicas tais como "Quão satis­feito você se sente em relação à sua vida?".


PSIQUE Costumo dizer que um dos grandes engodos da sociedade ocidental é vender prazer sob o rótulo de felicidade. Você concorda com isso?

Lyubomirsky: Interessante. Sim, eu acredito que muito do marketing está relacionado à ven­da do prazer — (por exemplo o prazer de uma bolsa nova, um carro novo, uma refeição rápida, férias, massagem etc.) Mas não podemos es­quecer que esses prazeres; e particularmente os prazeres dos bens materiais — não duram muito, pois as pessoas tendem a se adaptar (ou a dá-los como certo) a maior parte das coisas positivas de suas vidas. Tais prazeres apenas au­mentam a felicidade temporariamente.


PSIQUE: Você acabou de publicar um livro no Brasil no qual descreve 12 estratégias para o au­mento da felicidade. Em linhas gerais, no que con­sistem tais estratégias? Como você chegou a elas?

Lyubomirsky — No meu livro eu falo sobre 12 estratégias ou exercícios capazes de fazer as pessoas mais felizes. Eles trabalham, por exemplo:
- a capaci­dade de ser grato por aquilo que se tem;
- investir em relacionamentos;
- viver no momento pre­sente;
- de lidar com o trauma e o stress de uma maneira saudável;
- de praticar atos de bondade para com as pessoas e
- possuir um pensamento otimista...

Escolhi essas 12 em particular porque elas são as es­tratégias que mais apresentam evidências cien­tíficas quanto a sua efetividade. Também discuto em meu livro vários fatores que moderam e mediam a efetividade dessas estratégias.

Por exemplo:
- praticá-las com (1) o “timing” correto (uma ou duas vezes por semana ao invés de todos os dias);
- (2) a variedade correta (mudar o que se faz ao invés de praticar a estratégia da mesma forma todas as vezes);
- (3) uma boa adequação à sua personalidade (es­colhendo sabiamente a estratégia que funcionará para você) e
- (4) su­porte social (possuindo amigos/fa­miliares que o encorajem) — todos esses fatores aumentam as chances de as estratégias funcionarem.

PSIQUE Em que áreas os estudos sobre a felicidade têm sido aplicados?

LYUBOMIRSKY: Em sua maior parte têm sido aplicados na vida das pessoas, de forma a explicar, por exemplo, como uma única pessoa poderia se tornar mais feliz. Entretanto, há também aqueles que estão interessados em aplicar a ciência da felicidade no mundo dos negócios e em outros contextos institucionais, a fim de responder, por exemplo, como um empregador pode estruturar o ambiente de trabalho (ou qual­quer outra instituição) de forma a promover maiores índices de felicidade. Existem outras aplicações também, tais como nas áreas de educação e políticas públicas, mas eu não co­nheço muito a respeito delas.


PSIQUE Qual a relação entre felicidade e a prática das chamadas forças pessoais?

LYUBOMIRSKY: Não temos ainda uma grande quantidade de pesquisas sobre isso, po­rém, o início dos estudos sugerem que as pessoas podem se tornar mais felizes e satisfeitas se, in­tencionalmente, praticarem suas forças pessoais de forma regular, tais como:
- humor;
- coragem;
- persistência;
- bondade;
- gratidão;
- otimismo etc.
Conforme já mencionei, tenho feito pesqui­sas sobre a prática da bondade (assim como da gratidão e do otimismo), e esses estudos mostram que as pessoas se tornam mais fe­lizes ao longo do tempo — e mais capazes de manter esse aumento de felicidade — quando praticam esse tipo de exercício.

http://www.escala.com.br/detalhe.asp?id=9594&grupo=48&cat=185

Comentários

acordada disse…
Isto de felicidade é tudo aquilo que estava escrito e também o que escrevi no meu blog, vidaaposavida.com.br.
Seu blog é muito reconfortante e ajuda sim muitas pessoas. Adorei.
acordada disse…
Esre blog tem me enriquecido muito. Grata
Este comentário foi removido pelo autor.

Postagens mais visitadas deste blog

CONVERSAS ANÔNIMAS! VOCÊ, SEU NARCISISTA!!!

Gostaria de falar sobre esta postagem: Nada mais comum que uma postagem cheia de senso comum e conhecimento vulgar com uma compreensão enviesada do mundo. Tudo bem até aí? Só que não. Uma postagem assim além de reforçar o senso comum, lhe da uma validade. O que é ERRADO! A afirmação de que todo psicopata é narcisista é "FALSA"! E induz ao erro e preconceitos. Primeiro que não explica de que narcisismo se esta falando , segundo porque também não explica que o termo “psicopata” não é um diagnóstico válido descrito! Nem   está incluído no CID-10 e nem mesmo no DSM-5 ou em qualquer outro manual! Existe um natural "Narcisismo saudável", uma fase do comportamento que visa atender as próprias necessidades de forma equilibrada e respeitosa, sem prejudicar ou explorar os outros. Uma pessoa com narcisismo saudável tem uma autoimagem positiva, uma autoestima elevada, uma autoconfiança adequada e um nível aceitável de auto importância. O narcisismo saudável pode ser visto com

ATENÇÃO!

Você já teve a sensação de que está cada vez mais difícil manter o foco? Vivemos mergulhados numa chuva de estímulos – e isso tem efeitos mensuráveis sobre o cérebro. Veja quais são, e entenda a real sobre a moda que tomou as redes sociais: o jejum de dopamina. Por Bruno Garattoni e Maurício Brum (colaboraram Fernanda Simoneto e Valentina Bressan) Em 9 de janeiro de 2007, às 10h da manhã, um Steve Jobs saudável subiu ao palco do Moscone Center, espaço de eventos que a Apple alugava em São Francisco. “Vamos fazer história hoje”, disse. O iPhone não nasceu bem (dois meses após o lançamento, a Apple teve de cortar seu preço em 30%), mas acabou decolando. Vieram os aplicativos, redes sociais, o Android, a massificação. Hoje, 6,4 bilhões de pessoas têm um smartphone – superando com folga o saneamento básico, que chega a 4,4 bilhões. É bizarro, mas até tem seu nexo: o instinto humano de encontrar algo interessante, e prestar atenção àquilo, é tão primal quanto as necessidades fisiológicas.