Neurastenia, Burnout e a Normose!

A Neurastenia, o Burnout e a Normose são termos diferentes que em períodos diferentes estavam relacionados à saúde mental e ao bem-estar dos profissionais e usadas quando relacionadas com o esgotamento mental e físico.


1. Neurastenia - A expressão neurastenia foi usada pela primeira vez em 1829, e o termo deriva do grego antigo: νεῦρον (Neuro: que significa “nervo”) e ἀσθενής (Astenia: que significa “fraco”). O neurologista George Miller Beard reintroduziu o conceito no final do século XIX e início do século XX na América do Norte, tornando-o um diagnóstico importante nessa época. O primeiro a publicar sobre a neurastenia como termo psicopatológico foi o alienista Michigan E. H. Van Deusen, em 1869. Além disso, o neurologista de Nova York, George Beard, também usou o termo em um artigo publicado no Boston Medical and Surgical Journal para descrever uma condição com sintomas de fadiga, ansiedade, dor de cabeça, palpitações cardíacas, pressão alta, neuralgia e humor deprimido. Van Deusen associou a condição a mulheres rurais doentes devido ao isolamento e à falta de atividades envolventes, enquanto Beard a relacionou a mulheres da sociedade ocupadas e homens sobrecarregados. Embora a neurastenia tenha sido um diagnóstico na Classificação Internacional de Doenças (CID-10) da Organização Mundial da Saúde, ela foi depreciada e não é mais diagnosticável na CID-11. Além disso, não está mais incluída como diagnóstico no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Americana de Psiquiatria. Os americanos eram considerados particularmente propensos à neurastenia, o que resultou no apelido de “Americanitis” (“Americanite”). Outro termo (embora raramente usado) para neurastenia é nervosismo.  Alguns escritores viam a “Americanite” como consequência da “pressa, a agitação e o impulso incessante do temperamento americano”, como o definiu o psiquiatra William S. Sadler – como uma causa de doença, responsável pela hipertensão arterial, endurecimento das artérias, ataque cardíaco, nervosismo. exaustão e até insanidade.

Era descrita como;
- O esgotamento mental e físico, acompanhada por dor de cabeça, alterações do sono e outros sintomas, sem uma causa aparente específica.
- Também era descrito como um cansaço acompanhado de tristeza que afetavam as pessoas em diversos contextos, como na vida familiar, no trabalho ou diante das exigências sociais.
- Ela estava sempre relacionada ao excesso de exigências e demandas da sociedade.


2. Burnout - O termo Burnout foi utilizado pela primeira vez na década de 50 por Schwartz e Will em um estudo de caso, no qual descreveram a história de uma enfermeira que ficou desapontada com seu trabalho. Posteriormente, em 1960, Graham Greene relatou outro caso de um arquiteto que abandonou sua profissão devido à frustração com ela. No entanto, foi em 1974 que o psicanalista Herbert Freudenberger introduziu oficialmente o conceito de Burnout. Ele observou que seu trabalho já não lhe trazia o prazer de antes e relacionou essa sensação de esgotamento à falta de estímulo, originada pela escassez de energia emocional.

A Síndrome de Burnout é caracterizada por três componentes principais:
- Exaustão emocional/física: Sentimento de cansaço extremo e esgotamento.
- Perda de sentimento de realização no trabalho: Redução da produtividade e despersonalização extrema, manifestada por atitudes negativas nas relações interpessoais no ambiente de trabalho.
- Despersonalização/cinismo: Atitude negativa e distanciamento em relação aos outros. Profissões que envolvem interação com pessoas e cuidado com o outro, como professores, médicos, fisioterapeutas e enfermeiros, são particularmente suscetíveis ao Burnout.


3. Normose - A normose é um conceito mais amplo e menos conhecido. Refere-se à "adesão excessiva às normas e padrões/espectativas sociais", mesmo que esses padrões sejam prejudiciais ou não saudáveis. O termo foi cunhado por Jean-Yves Leloup, um psicólogo, teólogo e sacerdote francês. Ele dedicou sua vida à exploração do universo interior e é um defensor fervoroso da conexão entre ciência e espiritualidade.
Segundo ele a Normose refere-se a um conjunto de normas, conceitos, valores, estereótipos e hábitos de pensar ou agir que são aprovados pela maioria de pessoas em uma determinada sociedade, que no entanto, podem levar a sofrimentos, doenças e até mesmo morte, muitas vezes sem que os autores e atores tenham consciência da natureza patológica dessas ações.

O normótico é diagnosticado através de seu padrão de comportamento, ou seja, pessoas que vivem padrões em relação às crenças, paradigmas e repetições em excesso. Quando o normótico sai dessa sequência que foi auto imposta, ele se sente perdido, frustrado e começa a apresentar sintomas físicos:
- Pessoas que sofrem de normose tendem a seguir cegamente as expectativas da sociedade, muitas vezes ignorando suas próprias necessidades e bem-estar.
- A normose pode contribuir para o desenvolvimento de burnout, pois a pressão para se conformar com padrões sociais rígidos pode levar ao esgotamento.
- Ansiedade;
-  Depressão;
- Irritabilidade e 
- Insônia.

Em resumo, enquanto a neurastenia se concentra no esgotamento mental e físico de uma forma genérica e sem causa aparente, o burnout foi associado ao estresse crônico no trabalho e a normose a incompatibilidade entre seguir padrões sociais sem questioná-los e a natureza do indivíduo. Cada um desses conceitos refletem um pouco de suas épocas e das atenções que os pesquisadores davam aos temas que se apresentavam a sua volta, tendo suas próprias características e impactos na saúde mental.

Em comum todos os três temas destacam a importância de questionar e conscientizar-se sobre o que "se é", o que "se quer" e "como se conseguir" em uma sociedade que se impõem aos individuo. Reconhecer os sinais de esgotamento, avaliar as normas sociais e buscar autenticidade são passos cruciais para lidar com essas condições.


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