Pular para o conteúdo principal

Bolsonaro Freud e a "realidade das massas"





Bolsonaro queima largada e mostra realidade à massa


A essa altura, eleitores do presidente já devem estar avaliando 'mito' de forma diferente

Em “Psicologia das Massas e Análise do Eu”, Sigmund Freud (1856-1939) descreveu os mecanismos que alguns líderes e organizações empregam para atrair seguidores diferentes em torno de um único propósito.

O texto é dos anos 1920 e antecipou o caminho das multidões europeias na direção do fascismo e do nazismo —fenômenos que colocariam no mesmo barco cidadãos pacíficos e gente capaz de cometer barbaridades.

“Quem quiser influir sobre elas [as massas] não necessita medir logicamente os argumentos; deve pintar com as imagens mais fortes, exagerar e sempre repetir a mesma coisa”, diz Freud.

Nas massas, o cidadão encontraria elementos que, sozinho, não seria capaz de exercer ou identificar: força; uma invisibilidade que o exime de responsabilidades; contágio com os demais; e um estado de sugestão quase hipnótica em relação ao líder.

Assim, a capacidade intelectual das massas ficaria bem abaixo da dos indivíduos, permitindo que pessoas e ideias opostas se suportem e coexistam sem conflitos lógicos.

“Como a massa não tem dúvidas quanto ao que é verdadeiro ou falso, e tem consciência de sua enorme força, ela é, ao mesmo tempo, intolerante e crente na autoridade”, escreve Freud. “Nela, o irreal tem primazia sobre o real.”

Os motivos inconscientes desse comportamento teriam a ver com o império da libido sobre os sujeitos e a busca de afetividade e reconhecimento que acabam intensificados dentro da massa.

Mas o que vem ao caso aqui é como esse comportamento pode se dissolver. Bem a propósito, isso é tema do capítulo “Duas Massas Artificiais: Igreja e Exército”, ambas organizações caras a JairBolsonaro.

Seus seguidores e de outros líderes viveriam na ilusão de que existe um chefe supremo bondoso e incorruptível (Deus, um general, um presidente “mito”) que funcionaria como um substituto paterno. 

No caso da igreja, apoiada em algo que não se pode demonstrar, a fantasia já dura 2.000 anos. No de exércitos, apesar de leis marciais, há inúmeros casos de dispersão diante da morte de um comandante ou de seu fracasso em uma batalha.

Em relação a líderes que não exercem a coerção pela fé ou pela força, pode-se pensar que a dissolução das massas que os sustentam se dá pela constatação de que não são, afinal, o que diziam representar.

Para vencer, Bolsonaro cumpriu um roteiro de discursos simples e repetitivos contra o PT e a corrupção, que agora assombra sua própria família.

E teria virado “mito" ao diminuir a capacidade intelectual de sua massa a ponto de ela não se importar com seu discurso agressivo e repertório evidentemente limitado.

A essa altura, cada indivíduo da massa já deve estar tendo que avaliar sozinho o que de fato está acontecendo.

Em 10 de janeiro de 2019, Flávio Bolsonaro falta a depoimento. Ministério Público chama Flávio a depor. Senador eleito também falta, afirmando que precisa ler os autos sobre o caso antes 











Fernando Canzian

Jornalista, autor de "Desastre Global - Um Ano na Pior Crise desde 1929". Vencedor de quatro prêmios Esso.







Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Departamentos de psicologia no futebol!

Escrito por Danilo Lavieri, Colunista do UOL, dia 10/03/2022 Desde a final da Copa Libertadores da América, em novembro do ano passado, Andreas Pereira tem sido alvo de críticas da torcida do Flamengo. Essa perseguição por parte dos rubro-negros parece afetar diretamente o desempenho do meio-campista e, mais do que isso, deixa em evidência a discussão sobre saúde mental no esporte, cada vez mais comum. Ano passado, na decisão contra o Palmeiras, o atleta falhou no lance que resultou no gol do título do adversário. Contra o Vasco da Gama, no último jogo da equipe carioca, voltou a errar e os torcedores não pouparam os xingamentos das arquibancadas no estádio Nilton Santos. Apesar da vitória diante do arquirrival, por 2-1, no último domingo (6), Andreas não foi poupado das vaias quando foi substituído e ao final da partida, por isso teve de sair de campo abraçado pelo técnico Paulo Sousa. Desde o início da temporada, o meia tem oscilado nas atuações e hoje não é visto com unanimidade p

Barabim... barabum... baraBeakman!!!

Quase todo nerd na faixa dos vinte ou trinta anos assistiu a alguma das experiências científicas do programa ''O Mundo de Beakman'' . Com um inconfundível jaleco verde e ideias malucas na cabeça, ele conquistou fãs por todo o mundo. Paul Zaloom, ator que interpretava o cientista maluco, esteve no Brasil e falou sobre ciência e do sucesso dele no nosso país. Ele atendeu ao blogueiro d o "O Manual do Mundo" (que recentemente atingiu a casa dos 60 milhões de views) que comemorou a marca presenteando o seu público com a entrevista com   Paul  ~ professor maluco de penteado irado  Beakman ~   Zaloom , em pessoa. Para quem não conhece "O Mundo de Beakman" foi uma série exibida no Brasil na década de 1990, na TV Cultura, e reprisada algumas vezes nesse e em outros canais. O programa, extremamente dinâmico e divertido, foi marcante para quem nasceu na década de 1980 e para os que assistiram depois. Paul Zaloom veio para São