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Uma pequena história sobre o cérebro e a comida

Estudos recentes dos hominídeos primitivos indicam que a produção do fogo pelo Homo erectus (o ancestral imediato do homem moderno) só aconteceu no período neolítico, cerca de 7 mil anos AC. O Homo erectus descobriu uma forma de produzir as primeiras faíscas, através do atrito de pedras ou pedaços de madeira.

Antes disso estes hominídios e seu ancestrais só usavam dos “proveitos” do fogo por acidente. Quando um raio ou um evento aleatório de combustão natural provocava um incêndio em uma savana os Homo Erectus comiam as carnes dos animais inadvertidamente mortos no momento… e percebiam que ela era muito mais gostosa que a mesmas carnes quando cruas. O mesmo se deu com as frutas e legumes… Quando vasculhavam as áreas queimadas de um incêndio em uma savana primitiva procurando corpos de cobras, tatus, ou parentes de Antas e Capivaras azaradas, encontravam batatas que acidentalmente acabavam cozinhando na terra que queimara. Estes tubérculos passavam a ser comestíveis nesse formato.


Sem saber como “criar” fogo, as primeiras descobertas foram focadas em como “controlar” o fogo quando este aparecia… encontrando sua ocorrência tentavam MANTER o mesmo e depois em maneiras de transportá-lo.

Então a revolução culinária já estava em curso. Do “Crudismo” dos coletores e do último em uma cadeia alimentar a se aproveitar das sobras das carcaças deixadas por predadores mais eficientes os homens primitivos passaram a multiplicar por 10 às calorias retiradas de frutas, legumes e dos OSSOS de suas dietas… Sim… Ossos. A retirada do TUTANO.

O que chamamos de Tutano é um tecido gelatinoso, mole e esponjoso localizado no interior dos ossos longos. No organismo vivo ele é o responsável pela produção de elementos do sangue como leucócitos, plaquetas e hemácias e contém muitos nutrientes que são importantes para a saúde óssea, incluindo cálcio, magnésio e fósforo.


Com o fogo, esse material que ficava inerte e duro dentro das carcaças, passava a ser não só acessível como MAIS DIGERÍVEL e mais aproveitado! Carcaças abandonadas por grandes predadores e pelas aves de rapina passavam a ser úteis para os que soubessem retirar delas as bactérias que lhe putrefazem e os nutrientes escondidos em seu tutano.

Por um lado, os fósseis mostram com relativa clareza um processo gradativo de aumento do órgão. Até uns 2,5 milhões de anos atrás, os hominídeos tinham cérebros equivalentes aos dos modernos chimpanzés –mais ou menos um terço do tamanho do cérebro de quem está escrevendo ou lendo este texto.

Depois disso, porém, ocorreu uma expansão relativamente rápida (em termos evolutivos, claro) do tecido cerebral dos hominídeos, com órgãos de tamanho comparável aos nossos já presentes há cerca de 1 milhão de anos.

Nada parecido jamais aconteceu com outros primatas, cujos cérebros, em relação ao tamanho do corpo inteiro, são muito menores. O que, na verdade, faz sentido, porque cérebros são considerados órgãos "caros" do ponto de vista energético.

Quanto maior o conteúdo do crânio, mais energia seria necessário obter dos alimentos e, portanto, maior o tempo necessário para ir atrás de toda essa comida, para começo de conversa.

O resumo da ópera é que a conta não fecharia: primatas maiores tenderiam a ter cérebros menores, simplesmente porque não teriam como obter calorias suficientes de seus alimentos não processados, mesmo que passassem períodos ridiculamente longos comendo.

Diante desse dilema, Suzana Herculano-Houzel e Karina Fonseca-Azevedo, então na UFRJ, propuseram que cozinhar os alimentos teria sido a chave para que ancestrais do homem se tornassem donos de cérebros avantajados.

VEGETARIANOS

A ideia já era defendida por Richard Wrangham, da Universidade Harvard, que estuda os hábitos alimentares dos chimpanzés e notou como eles sofrem para obter calorias a partir de sua dieta majoritariamente vegetariana.

Cozinhar os alimentos, além de torná-los mais mastigáveis e fáceis de digerir (o que, por si só, já pouparia um bocado de energia), também liberaria nutrientes que o organismo não conseguiria absorver a partir do alimento cru.

O trabalho coordenado por Suzana, hoje na Universidade de Vanderbilt (EUA) e colunista da Folha, passou a ser visto como um argumento de peso em favor da tese de Wrangham. Para os autores da nova pesquisa, porém, o problema é que os cálculos da neurocientista se baseiam em primatas modernos que são majoritariamente vegetarianos.

"O cenário muda bastante se a gente imagina que esses hominídeos incluíam uma quantidade significativa de carne na dieta, como acontece em grupos de caçadores-coletores modernos", explica Costa. Nesse caso, bastaria um esforço moderado, em torno de cinco horas por dia procurando comida, para suprir as necessidades de um grande cérebro em crescimento, segundo os cálculos do grupo potiguar.

Dois outros argumentos são citados: o primeiro é que, de fato, os indícios sólidos do uso de fogo pelos ancestrais do homem aparecem bem depois do início da expansão do tamanho do cérebro, a partir de 1 milhão de anos atrás. O segundo é que, em testes com camundongos, houve maior obtenção energética com a ingestão de carne crua do que com a cozida –talvez por causa da gordura perdida no processo de cozimento.

Suzana argumenta que o novo estudo possui "falhas fundamentais que invalidam suas conclusões". Para ela, as estimativas para obtenção de calorias usadas pelo grupo são irrealistas no caso de primatas, além de não levar em conta a importância do tamanho corporal e do tempo que se gasta comendo.

"Em ambientes ricos em recursos, não seria irreal um hominídeo obter essas calorias. E nós usamos uma estimativa de gasto de energia que na verdade é até mais alta que a do trabalho dela", argumenta Costa.

Há, entretanto, alguns pontos de acordo. A equipe da UFRN defende que, antes que houvesse o domínio do fogo, ferramentas de pedra já seriam usadas para processar alimentos como carne e tubérculos –um empurrão e tanto para a obtenção de calorias e o crescimento do cérebro.



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