Negócios, dinheiro e competição no contexto da espiritualidade
Reportagem na Revista Pragmatha Gestão & Negócios
abril 1, 2013
Sucesso material é compatível com espiritualidade? Pode-se falar em 
melhoria no padrão de competitividade, a partir de uma visão mais 
espiritual do mundo do trabalho? Segundo a a monja zen budista americana
 e naturalizada brasileira Isshin Havens Sensei, essas questões são 
complexas, mas ao mesmo tempo simples. Em Porto Alegre, Isshin atua como
 orientadora espiritual da Comunidade Zendo Sul, é autora do livro “A 
Vida Compassiva Compaixão” e também desenvolve projetos diferenciados 
para comunidades, empresas e profissionais.
Segundo a monja, há competitividade saudável e nãosaudável, a 
primeira mais praticada por aqueles que só pensam em si próprios, 
podendo-se valer de métodos inescrupulosos, e a segunda praticada por 
aqueles que cultivam a inteligência espiritual, desenvolvendo um 
centramento interno, espaço de calma que permite enxergar as situações 
com uma visão cada vez mais clara, ouvindo a voz da intuição e 
priorizando decisões éticas. Na competitividade saudável, garante 
Isshin, o foco maior é com o próprio trabalho e não na competição. Isto 
implica em cultivar um relacionamento ganha-ganha com colegas, 
empregados, empregadores, clientes, fornecedores. “Por exemplo, a 
sociedade, como um todo, está cada vez mais consciente da importância do
 pensamento ecológico e dos direitos dos outros seres, humanos e 
animais. Por mais que temos as nossas diferenças, somos todos parte de 
um algo maior. Para citar um clichê – estamos todos no mesmo barco, 
portanto, a inteligência espiritual nos ajudará a remar juntos”.
Sobre fontes de inspiração espiritual para uma melhor prática, a 
monja lembra que no pensamento protestante cristão existe a ética do 
trabalho, o trabalho como meio de salvação. No Zen Budismo, existe a 
prática do “samu” (geralmente traduzido como trabalho ou ‘atividade 
diária). “Consideramos todas estas atividades como sendo igualmente 
sagradas.”, explica. Outro exemplo é a experiência monástica católica. 
“Vemos os monges budistas ou católicos fazendo o seu trabalho com um 
espírito leve e com alegria, flexibilidade e prontidão de simplesmente 
fazer o que precisa ser feito, sem ficar presos em falso orgulho e medo 
ou outros sentimentos negativos. Para a pessoa leiga, verdadeiramente 
espiritualizada, seria a mesma coisa.
Por estarem centradas na sua espiritualidade, tais pessoas tendem a 
ter uma percepção mais clara das situações e uma intuição mais forte, 
que passa a trabalhar de uma forma integrada com o seu lado racional e 
as ajuda a reconhecer aspectos sutis dos acontecimentos e a enxergar o 
quadro maior.
Segundo a monja, os ensinamentos sobre a importância de servir e de 
liderar servindo são idênticos e comuns nas mais diversas religiões. No 
Japão e outros países asiáticos, diz Isshin, é bastante comum para as 
pessoas leigas, incluindo muitos empreendedores e profissionais, passar 
algum período de tempo num mosteiro budista, para fortalecer o caráter e
 treinar o servir. Monja Isshin atenta para o fato de que se criou uma 
imagem estereotipada da pessoa supostamente espiritualizada como “bicho 
grilo” e alienada, que não combinaria com o sucesso no mundo material, 
dinheiro ou negócios. Porém, é falsa em se tratando de pessoas de fato 
espiritualizadas. “Os mestres religiosos que conheço têm sido pessoas 
bem presentes no mundo real e incentivam que os leigos espiritualizados 
vivam com honestidade, ética, dignidade e generosidade, desfrutando do 
dinheiro, do sucesso e dos benefícios resultantes.”
Reportagem publicada na Revista Pragmatha / Gestão & Negócios – No. 3 – Março 2012- página 07 – Gestão pessoal

 
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