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A prática dos votos do bodhisattva da dádiva e da partilha


Sermão Mensal

Setembro de 2012 - Prazer da Dádiva e da Partilha – Fuse 布施 pelo Rev. Shugen Komagata parte 3

Embora seja muito difícil despertar o Buda  em si mesmo, deve-se fazer todos os esforços nesse sentido. Colocar em prática os ensinamentos do Buda relativos ao amor, misericórdia e compaixão é algo que todos podem fazer. Não está restrita à comunidade do templo, mas sim aberto ao mundo. A vida de cada um é valiosa e não pode ser desperdiçada. Dar, dizer palavras simpáticas, ajudar os outros e cooperar, não para proveito próprio, materiais ou espirituais, mas sim pelo ato em si. Mais do que um fim, a prática adequada é, em essência, um fim em si próprio. Esta é a verdadeira prática do Budismo e o ideal do bodhisattva.

Há seis meses, durante visita a um hospício, fiquei totalmente desconcertado num encontro inesperado com uma paciente terminal com cancro, por quem rezei e dirigi palavras de encorajamento. Tinha 70 anos de idade e estava completamente lúcida. Cumprimentou-me e deu-me as boas-vindas, dizendo-se muito agradecida pela minha visita. Depois de alguns minutos de conversa, recitamos em conjunto a Oração dos Três Refúgios (Sanki raimon 三帰礼文) e o sutra de Kannon de Dez Versos da Vida Eterna (Enmei Jikku Kannon Gyo) com o seu juzu nas mãos em gassho.

Depois de recitar os sutras, fechou os olhos durante alguns minutos; com um sorriso débil mas feliz, olhou para mim e disse ternamente: "Obrigado por rezar por mim. Sinto-me calma agora e todas as minhas preocupações parecem ter desaparecido. Sinto-me melhor e com mais energia. Sinto-me abençoada e não me sinto só. Não sinto receio de ficar sozinha, mesmo sabendo que tenho de partir muito em breve. Agora sinto que estou espiritualmente junto com a Buda e que a minha família também está comigo. Estou feliz por estar viva hoje e quero partilhar consigo este precioso sentimento de gratidão. Estou muito grata por todas as bençãos que recebi durante a minha vida, dos meus pais, avós, dos meus filhos e netos e dos meus amigos. Estou muito agradecida. Não tenho qualquer mágoa."
Com as mãos em gassho, inclinou a cabeça para mim, dizendo docemente: "Obrigada, sinto-me arigatai (grata)." Com os olhos em lágrimas, decorreram alguns minutos de silêncio e prosseguiu com a sua voz débil. "Reverendo Komagata, estou muito agradecida pela sua visita semanal e pelas suas orações. Oh, gostaria de poder oferecer-lhe algo como expressão da minha gratidão, mas lamento não ter nada para lhe oferecer. Honto ni gomen nasai (Lamento imensamente). Não sei se amanhã ainda estarei viva, mas enquanto estou viva hoje, posso rezar agora? É tudo o que lhe posso oferecer." E, com o seu calmo tom de voz, rezou pela minha boa saúde e felicidade.

Devastado, mas com serenidade, sorri para ela e disse-lhe "Obrigado". Com um ligeiro sorriso encantador, retribuiu e suspirou "Obrigada". Estas foram as últimas palavras que me dirigiu. Na manhã seguinte, a família telefonou-me para informar que ela tinha partido em paz.

A vida é um bem valioso. Cada momento desfrutado da vida é valioso, independentemente da condição física vivida por cada um. No entanto, esta mulher viveu ao máximo, embora sabendo que a sua vida estava próxima do fim. Fiquei muito reconhecido pela forma totalmente não egoísta como desejou partilhar comigo os seus sentimentos genuínos de gratidão, oferecendo-me as palavras da oração. Fui ao seu encontro para a encorajar a viver positivamente este verdadeiro momento da vida; em vez disso, demonstrou graciosidade quando, mesmo nas circunstâncias extremamente difíceis de encarar a morte, foi capaz de encontrar a felicidade praticando a dádiva com a generosidade no coração e na mente. Este foi o mais belo ato de "dádiva" que já recebi de alguém.

A essência fundamental da dádiva deve ser praticada na vida diária, através das nossas ações físicas, das palavras que dizemos e dos pensamentos que temos. Esta é a prática dos votos do bodhisattva da dádiva e da partilha. Não é difícil. Tudo o que devemos fazer é praticar a dádiva com todo o empenho, de forma comum e natural, sem prejuízos ou condições.

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