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Bossa Zen: Teste para Viver com Pouco

Postado no Bossa Zen:


Não há teste melhor de que podemos viver com poucas coisas do que participar de um retiro zen budista.


Geralmente levo duas calças de meditação, o robe, e duas camisetas longas e duas curtas. Se for frio serão blusas segunda pele do tipo warm skin e roupa de baixo tb. segunda pele. No lugar onde vou tem roupa de cama e toalhas, então, isso não preciso levar, mas levaria uma toalha de secagem rápida, 3 pares de meias e pouca coisa de higiene. Um calçado para usar dentro de casa e um fora. Um livro para ler na viagem, câmara de fotografia, celular, mas apenas para usar antes e depois do retiro. Documentos e nada mais. Ainda assim acho que levo muitos itens, mas sendo fora do país e em estações diferentes entre os países acaba sendo necessário. 

Nos retiros onde vou a organização é essencial. Tudo tem o seu lugar pois não podemos nos comunicar ou ficar toda hora perguntando onde está tal coisa. Então as gavetas tem etiquetes indicando o que tem dentro, assim como os armários, a geladeira. Há instruções por escrito do como limpar o banheiro e você só precisa ler. Isso facilita muito a vida e gera menos atritos entre as pessoas. Ao invés de ficar abrindo todas as portas e gavetas a procura de algum objeto só temos que parar e ler as etiquetas ou instruções. Um bom retiro deve ser minimalista. A comida deve ser fácil de preparar e de digerir. Os utensílios devem ser fáceis de manejar, lavar e guardar. A pratica é baseada em uma rotina não por acaso. A rotina no retiro facilita bastante. Se cada dia for de um jeito vai dar muito mais trabalho. Passam-se anos e quando volto lá, nada mudou. As coisas não mudaram de lugar.

O trabalho também deve ser simples. O objetivo do trabalho no retiro não o trabalho em si, mas aprender a usar a técnica aprendida, no dia a dia. Aprender a levar para nosso cotidiano aquilo que fazemos formalmente quando meditamos.A meditação é uma extensão da pratica, pois ficar sentados na almofada nós só ficamos por alguns minutos, mas se conseguimos trabalhar nossa mente para meditar a cada momento, pra manter-nos focados no momento, em cada ação ai sim aquela pratica do retiro ou das salas de meditação fará alguma diferença em nossas vidas. 

Quando faço retiros geralmente me cabe limpar os banheiros. Se os limpar como faço em casa, poderia limpa-los em cinco minutos, mas eu tenho uma hora, então é quase como se nesse tempo eu tivesse uma longa conversa com a pia, o vaso sanitário, o chão e as janelas do banheiro. Eu preciso fazer aquele trabalho de forma mais lenta e atenta. Em uma semana ou mais limpando banheiros eu percebo cada detalhe, cada pequena imperfeição e fico tão intima daquele lugar que poderia sentar ali e meditar nele.

Há muitos livros que ensinam sobre como organizar-se e viver com menos. A corrente minimalista tem muitos adeptos. A vida com menos não é necessariamente sem nada, ela apenas é mais clean e simples. De certa forma, intuitivamente, já sabemos do que esses livros falam. Eles mais servem para dar um empurrão em quem já estava pensando no assunto mas ainda não havia posto em pratica. O estilo minimalista vai desde o modo de vida a forma com que decoramos a nossa casa e como gastamos nosso dinheiro com o que é essencial ou apenas consumindo coisas da moda.

Nesse processo também gosto de enfatizar a pratica da reciclagem. Aquilo que não queremos mais pode servir a outras pessoas e podemos doar ou vender, assim as coisas ao invés de irem para o lixo podem ter seu tempo útil estendido. Fazer um inventario de nossas coisas ajuda muito a decidir o que é prioridade e o que não precisamos mais e podemos descartar. Podemos adquirir coisas que duram mais ao invés de coisas descartáveis ou tentar usar algo por mais tempo mesmo sabendo que podemos comprar outro mais bonito e moderno. Minha mãe ainda usa coisas que foram dadas a ela quando se casou. Meu pai afia as facas para que possam continuar a serem usadas do contrario iriam para o lixo e já temos bastante lixo no mundo. Sem destino adequado ele vai parar em rios, no mar e poluem e contaminam o ambiente. Não colocamos quase nada na rua para ser recolhida pelo sistema de coleta de lixo. Temos nosso próprio sistema de reciclagem e compostagem caseiros. Isso é tão antigo que não é natural que as pessoas não o façam expontaneamente e que alguém ou alguma instituição precise fazer alguma ação para motivar ou premiar quem recicla. 

Tem gente que prefere abandonar um sofá na rua ou jogar num rio do que dar para alguém, isso certamente não faz parte do conceito de viver com menos. Alguém também pode interpretar o conceito de viver com menos ao desapego. Mas não é por ai que a banda toca. A opção de viver com menos é baseada em viver melhor. Menos é mais, porque menos coisas gera menos bagunça. Quando há menos coisas para arrumar, limpar, pode-se ter mais tempo para se dedicar a si mesmo, à família, a uma boa conversa, um passeio. Menos coisas para gerenciar, menos problemas para resolver. Quem tem um carro ou já teve sabe quanto custa carregá-lo por ai. Às vezes ele nos carrega, mas quando só vira despesa somos nós que o carregamos. Há muitos exemplos nessa linha. E sobretudo, o consumismo vai totalmente contra essa corrente de viver com menos. Ser minimalista implica em consumir menos. Produzir menos lixo, e viver mais, aproveitar mais o que já está aqui a milhares de anos só esperando por nós.

Foto do Rick que minimizou seu ap/antes-depois.


Postado por Jeane Dal Bo

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