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Bem-vindo ao agora!






Num artigo excelente chamado Bem-vindo ao agora! que fala sobre a meditação sem a significação espiritual, ou o Bompu Zen– que está tornando-se bem conhecida entre psicólogos e psiquiatras, como uma ferramenta terapéutica, o autor escreve:  ”Fiedler aconselha cautela – o apelo de que ‘todas as coisas são boas assim como são’ não pode substituir o diálogo terapêutico orientado”.

Isto é bem verdadeiro. Para o tratamento das dificuldades psicológicas e emocionais, a “Meditação Curativa” não pode substituir a psicoterapia, apesar do fato que, geralmente, pode ser um excelente tratamento paralelo à terapia.

Olhando o outro lado da moeda, também lembramos que, a Meditação Curativa, ou o Bompu Zen, não pode substituir a prática Zen corretamente orientada para quem pretende trilhar o caminho espiritual em direção à libertação do sofrimento (Nirvana) budista, pois não pode substituir os Três Treinamentos da prática budista (sangaku [japonês], trisiksa [sânscrito], or ti-sikkha [pali]).

Estes Três Treinamento são:
1. Estudo ou Sabedoria (慧, prajna) – é o Estudo através do “ouvir, refletir e realizar” – o estudo dos sutras clássicos de Buda, o estudo dos textos dos mestres clássicos e modernos e o estudo sob a orientação de um professor do darma (palestras, entrevistas particulares). É o cultivo da Sabedoria que resulta dos Três Treinamentos.

2. Prática ou Moralidade (戒, siila) – na tradição Soto Zen, é a prática dos Preceitos Budistas, que deve fazer parte do dia-a-dia do praticante e que é especialmente focada durante a prática de Samu e outras atividades junto à comunidade dos praticantes.

3. Meditação (定, dhyana) – na tradição Soto Zen, é o Zazen. Sem desqualificar o fato que a meditação sozinho em casa pode ser valiosa, a prática em grupo, sob a orientação de um líder qualificado é indispensável para quem deseja progredir no caminho espiritual.

Cada um destes Três Treinamentos reforça os outros – o Estudo instiga a Prática da Moralidade e a Meditação, a Prática da Moralidade (e a convivência com a comunidade dos praticantes, com todos os seus “encontros e desencontros”) instiga o Estudo e a Meditação. Finalmente, a Meditação instiga o Estudo e a Prática da Moralidade. Um Treinamento sem o outro fica limitado e enfraquecido.

A Meditação sozinha, sem o Estudo e Prática da Moralidade, facilmente torna-se um simples “relaxamento” no qual a mente acaba andando em círculos dentro nos limites de seus pontos cegos. Ainda mais, o verdadeiro Zazen do Zen Budismo, o Shikantaza, ou o Saijôjô Zen é bem diferente do Bompu Zen ensinado na medicina e psicoterapia. Não podemos confundir “relaxamento” com “auto-transformação no caminho espiritual”.

Ainda no caso do Zen Budismo, muitas pessoas acreditam que só sentar em Zazen é o suficiente para alcançar a Iluminação. Estão muito enganadas, pois o Método do Zen engloba uma série de práticas – um “pacote” completo em si.  Temos o Zazen, o Kinhin (meditação andando), a prática de Cerimonial (liturgia), a prática de Samu (atividade diária, como trabalho em grupo) e a prática das Formas (postura, detalhes ao servir chá ou fazer outras atividades). Quando dispensamos qualquer uma destas práticas, imaginando que estamos nos libertando de um “aspecto cultural japonês, sem importância), estamos jogando o bebê fora junto com a água do banho.

Distinguir entre o “método Zen” e os “aspectos culturais japoneses” exige uma compreensão da prática Zen em si e também da cultura japonesa. Sem isso, é fácil demais confundir-se em relação a escolha dos aspectos essenciais ao método Zen e aqueles que podem realmente serem deixados de lado.  E esta compreensão não podemos adquirir através de livros ocidentais, mas somente com bom treinamento junto com um bom professor.


Grato Sensei.

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