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Liberdade dos 40

Daqui a poucas horas farei aniversário. Dizem que nasci próximo das 14 horas de um dia 19 de novembro de 1971. Nasci chorando, Moinhos de vento, Nas ruas de um porto não muito alegre, E que, no entanto, me traz encantos E um pôr-de-sol que me traduz em versos... (licença... nem tão poética...). Mas eu detesto aniversários.





Estou de telefone desligado desde ontem e sairemos de casa hoje para visitar familiares para evitar visitas.

Não gosto de aniversários a muitos anos. Mas a total falta de dinheiro - e a ajuda do Tarso
me ajudaram a não fazer grandes encontros em casa para este fim, contrariando o impulso dionísico  e festivo de minha amada esposa, que adora uma reuniãozinha entre amigos mais chegados - que acaba com mais de 30 pessoas fácil, fácil. Mas, bem antes de casar, ja não gostava de minhas festas de aniversário. Não me lembro de alguma festa de aniversário minha que eu tenha gostado ou melhor, que eu tenha passado sem uma ansiedade ancestral e inevitável...

A explicação fácil - e fatalmente equivocada por sua superficialidade, mas... - é que como meus pais se separaram quando eu era muito pequeno - 9 anos - cresci sem poder ter "uma" festa de aniversário, mas, passei a ter sempre "DUAS"... Conheço gente que ADORA esta idéia... Mas para mim sempre foi um inferno. As "duas" festas significava ter que organizar e agrupar meus convidados - pessoas que eu amava e queria juntas para festejar - em times antagonistas: pessoas que só podiam ir em um determinado dia para não se envolver com o outro lado da família... Meus pais se separaram só uma vez. Mas faziam - mesmo que involuntariamente -  de minhas "festas de aniversário" uma celebração do conflito deles. E isto se seguiu por décadas. Festa onde convido um e seus partidários, o outro e seus partidários não vão.

Sem brincadeira, eu quase infartei em dois eventos.

O primeiro foi quando eu me formei Técnico de Enfermagem. Eu ja tinha uns 24, 25 anos e morava sozinho e até acabar a cerimônia eu não sabia se alguém da minha família tinha ido na dita cerimônia, pois até o último minuto meus pais se recusavam a ir se o outro fosse. Ambos foram. Sem me dizer se iam. Tenso.

O segundo foi no nascimento do Vitor. Meu primeiro e mais amado menino... Pelo mesmo motivo. Minutos antes dele nascer recebi um telefonema de minha mãe dizendo que era bom tirar meu pai do hospital pois ela queria ver seu neto... Patológico. Entrei em colapso. Só que a partir daí eu passeia não ligar mais oficialmente. Eu era um Zumbi nas festas minhas e do Vitor. Desliguei o afeto com celebrações. Natais, aniversários, virada de anos... tudo apenas para o protocolo.

A coisa só mudou no meu segundo casamento.

Primeiro eu mandei pro inferno as incompatibilidades deles... Se alguém tem interesse em celebrar "comigo" vai ter que aturar meus convidados e se comportar. Senão é só não vir... 

Tanto o casamento quanto os aniversário a partir daí foram em função desta lógica. Uma grande influência da Simone - minha otimista e dionísica esposa. Ela pensa que os motivos para nos unir são maiores que os problemas que nos afastam... É uma força da natureza que não aceita um mundo sem romantismo. Não tinha como ser mais diferente de mim. Sorte minha.




Hoje eu não estou a fim de celebrar aniversários. Mas não quero arrastar a neurose de outros comigo...


O autor de "fausto", Johann Goethe, teria dito:   "O erro só é bom enquanto somos jovens. À medida que avançamos na idade, não convém que o arrastemos atrás de nós."


Corretíssimo. Sobre tudo quando o erro não é nosso.




Buenas, hoje completo 40 anos e estou tratando de assuntos de minha infância. Típico e freudiano. Em fim... Venho deixando de lado inúmeras atividades e sentimentos que não me fazem bem ou que são incompatíveis com minha vida.


Os quarenta são bizarros por esta questão de perspectiva...


Ou seja, você olhar para traz - metafóricamente - e pode ver 40 anos de suas escolhas... que fez em piloto automático ou por impulso... E ainda olhar para frente e se dar conta que terá mais 40 anos pela frente... com sorte.


Estou com bom peso (pela primeira vez mantendo por quase um ano) e com meus filhos junto de mim... Com minha mulher que amo e que me ama também... E trabalhando.


Poderia ser muito pior, dada as estimativas e a genética (cardiopatias, aneurismas, alzheimer, cânceres pululam na família) padrão de comportamento de minha família.




Otimismos a parte. Ainda fujo de festividades e ritos de passagem. 


Continuo gostando de psicologia, filosofia, Edgar Alan Poe e de Punk Rock gaúcho dos anos 80 e filmes de terror - daqueles que vampiros não brilham feito purpurina - e de meditar e ler sobre Budismo... Quase a mesma coisa em décadas...


Envelhecer é inevitável... Mas deixar de viver é burrice.



"Eu comecei minha faxina. Tudo o que não serve mais (sentimentos, momentos, pessoas eu coloquei dentro de uma caixa. E joguei fora. (Sem apego. Sem melancolia. Sem saudade). A ordem é desocupar lugares. Filtrar emoções."Caio F. Abreu



Siga o baile.

Comentários

Anônimo disse…
Desejo tudo que tenho sempre.E tenho tudo.

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